Perseverança dos Santos Parte 11

Perseverança dos Santos Parte 11 -- Apóstatas Podem Ser Restaurados?

Perseverança dos Santos Parte 11 -- Apóstatas Podem Ser Restaurados?

A Restauração É De Fato Impossível?

Após estudar as passagens de advertência de Hebreus, a questão naturalmente surge: pode um apóstata de fato ser restaurado novamente para salvação? O repúdio da fé salvífica é irrevogável e a condição do apóstata é permanente?

Nesta série nós pretendemos permitir que a exegese guie nossa teologia. Eu preferiria que a doutrina da segurança eterna fosse verdadeira por muitas razões tanto quanto eu preferiria crer que não existe lugar de eterno fogo para todos os que rejeitam Cristo. Porém, creio que o inferno é uma realidade terrível e que crentes genuínos podem cair da fé para sua própria ruína eterna porque eu verifiquei que a exegese cuidadosa força tais verdades sobre nós. Ao lidar com a questão de se apóstatas podem ou não serem restaurados, devemos olhar além do que nós desejamos crer e nos concentrar apenas no que a Palavra de Deus nos ensina.

Encontramos em Hebreus 6:4 que é impossível ao apóstata ser novamente renovado para o arrependimento. A Bíblia é clara em que apenas mediante arrependimento se pode ser salvo (At 2:38, 11:18). Hebreus 10:26 nos informa que não há sacrifício de pecados remanescente para o apóstata. "O apóstata tem pecados mas não tem sacrifício disponível para seus pecados. Havendo rejeitado o sacrifício feito por Jesus Cristo, não há outro sacrifício para o se voltar". (F. Leroy Forlines, The Quest for Truth, pg. 281)

Alguns têm focado na parte da advertência que estabelece, "visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério". Robert Picirilli nota que o "visto que" é fornecido pelo tradutor como uma transição mostrando causa e efeito. O significado literal desta passagem é "(eles) re-crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo (Ele) ao vitupério". (Grace, Faith, Free Will, pg. 222) Ele depois nota que alguns veem nessa passagem a possibilidade de restauração de tal apostasia. Ele faz referência à sugestão de Robert Shank que a passagem deveria ser entendida como "É impossível renová-los para arrependimento enquanto eles estão re-crucificando ... e publicamente vituperando-O" (ibid. 223 -- ênfase minha). Picirilli aponta corretamente que esta visão torna o alerta em uma tautologia sem sentido:

A interpretação de Shank termina por dizer que é impossível renová-los para arrependimento enquanto eles persistem em rejeição -- que não é muito um ponto desde que é sempre impossível trazer qualquer um ao arrependimento enquanto ele persistir em rejeição. (ibid. 224)

Ele então cita F.F. Bruce que chama essa interpretação de "um truísmo dificilmente digno de colocar em palavras". Faz bem mais sentido ver a passagem tratando de uma relação causal entre o ato de apostasia e o resultado de tal ato (re-crucificar o Filho de Deus e colocá-lo em vergonha pública).

Apostasia e o Pecado Presunçoso de Números 15:30,31

É importante lembrar que o pecado de apostasia descrito em Hebreus é um pecado do tipo "a olhos bem abertos". É feito com uma atitude de arrogância e descrença. Não é uma matéria de duvidar da verdade do Evangelho, mas ativa e deliberadamente repudiar tal verdade. Não é um assunto de lutar com o pecado e falhar neste embate, mas completa e rebeldemente render-se ao pecado em um ato deliberado de desafio diante de Deus. Não há maneira de acidentalmente escorregar em tal ato e não realizá-lo. Ele é feito deliberadamente e é um ato absoluto de descrença.

Forlines vê uma conexão entre os pecados do apóstata e o pecado presunçoso descrito em Números 15:30,31. Ele escreve:

Não penso haver qualquer dúvida que o escritor de Hebreus queria falar que o 'pecado deliberado' de Hebreus 10:26 era o mesmo tipo de pecado que o pecado presunçoso de Números 15:30,31. Não há sacrifício para pecados presunçosos. Existe uma óbvia conexão entre as palavras ' já não resta mais sacrifício pelos pecados' (Hb 10:26) e o fato que não há sacrifício para pecados no caso de pecados presunçosos em Números 15:30,31 ... Pecados presunçosos foram cometidos com uma atitude desafiadora. Eles vieram de uma atitude de arrogância, desafio, descrença. De acordo com Números 15:30,31, não há sacrifício para pecados presunçosos. De fato, se o pecado de apostasia mencionado em Hebreus 6:4-6 e 10:26-29 é para ser igualado com os pecados presunçosos de Números 15:30,31, que deveria decidir para sempre a questão de se a apostasia é irremediável. (The Quest for Truth, pg. 282)

Forlines é cuidadoso ao distinguir entre pecado presunçoso e "pecados de ignorância":

O Antigo Testamento faz uma clara distinção entre os pecados de ignorância e os pecados presunçosos. Pecados de ignorância (também chamados de "pecados não-intencionais") são basicamente pecados de fraqueza. A pessoa que comete tais pecados tem desejos melhores, mas estes desejos foram vencidos. Aquele que comete tal tipo de pecado tinha que oferecer um sacrifício (Nm 15:27-29) ... Uma vez que vemos a distinção entre pecados de presunção e pecados de ignorância no Antigo Testamento, é claro que esta distinção ressoa no Novo Testamento. É evidente que quando Jesus disse 'Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem' (Lc 23:34 AR), ele estava considerando os pecados daqueles que O crucificaram como sendo da categoria de pecados de ignorância. Em Atos 3:17, Pedro diz que os judeus crucificaram Jesus por ignorância. Descrevendo a si mesmo antes da conversão, Paulo diz 'blasfemador, perseguidor, e injuriador'. Ao explicar como foi que ele foi perdoado, ele disse ' mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância, na incredulidade' (1Tm 1:13 AR). Está claro que Paulo estava colocando seus pecados de blasfêmia e sua perseguição à Igreja na categoria de pecados de ignorância. Foi por esta razão que ele pôde ser perdoado. (ibid. 282, 283)

E no caso de Pedro ele escreve:

Creio que se a perseguição de Paulo à Igreja pudesse ser considerada um pecado de ignorância, então certamente a negação de Cristo na noite da traição de Cristo possa ser considerado um pecado de ignorância (ou fraqueza). Se isso for verdade, o caso de Pedro não teria nenhuma relação com a questão de se há ou não remédio para a apostasia. (ibid. 283)

Retornaremos ao caso de Pedro daqui a pouco. Forlines encontra mais evidência para a conexão entre pecados presunçosos e apostasia na descrição dos mestres apóstatas de 2Pedro 2:

Verso 10 de 2Pedro 2 lança mais luz ao assunto. Neste verso Pedro descreve estes mestres apóstatas como tolmetes. A KJV traduz tolmetes como "presunçosos". A NASB interpreta como "desafiadores". A NIV traduz como "arrogantes". Tolmetes ocorre somente aqui no Novo Testamento. Acerca de seu uso, J.A. Moyter explica, 'a única ocorrência do nome (tolmetes) é claramente em um mau sentido ..., o homem arrogante de 2Pedro 2:10 que não suporta restrições ao eu-próprio e não reconhece autoridade a qual ele se tornará responsável'.

É claro que Pedro está considerando estes falsos mestres culpados do pecado presunçoso de Nm 15:30,31. A arrogância e rebelião destes apóstatas dá uma finalidade à sua ação. Antes de serem salvos eles não tinham esta finalidade sobre sua condição perdida. A presunçoso, presunçosa, desafiadora decisão com a qual eles cometeram apostasia significa que ela foi feita com finalidade. Isto os põe em condição pior de a que antes de serem salvos. (ibid. 284)

Implicações Práticas

Creio que Forlines corretamente identificou apostasia como descrita em Hebreus 6 e 10 com o imperdoável pecado pesunçoso de Nm 15:30,31 (mesmo que no AT pecado presunçoso possa ser qualquer pecado cometido em rebelião presunçosa, enquanto em Hebreus tal "pecado" seria pertinente apenas à rejeição definitiva da fé salvífica). Seria correto então identificar apostasia com o pecado imperdoável descrito por Jesus nos Evangelhos. A importante distinção bíblica entre pecado de ignorância e pecado prepotente nos ajudará a entender melhor o que apostasia significa e o que ela não significa:

Creio que possamos repousar certos de que a pessoa que se achega para nos falar acerca de seus medos de ter cometido o pecado imperdoável não se encaixa na descrição das pessoas descritas em 2Pe 2:20, Hb 6:4-6 e Hb 10:26-29. Se existe uma preocupação em ser restaurado a um relacionamento correto com Deus, tal pessoa não cometeu apostasia. (ibid.)

Parece certo que o "pecado para morte" descrito por João em 1Jo 5:16-17 é o pecado imperdoável de apostasia como descrito em Hebreus 6 e 10. Isto sugeriria que alguém pode, em certas situações, saber que uma determinada pessoa é uma apóstata sem qualquer esperança de renovação desde que João nos instrui não orar por tais tipos. Não há necessidade de orar por aqueles que pecaram de tal maneira desde que não existe possibilidade de renovo. Nossas orações seriam portanto uma perda de tempo e seriam melhor servidas diante daqueles que ainda não cometeram apostasia. Isto não significa, porém, que possamos sempre saber quando alguém cometeu apostasia irrevogável. Apenas significa que existem casos em que a apostasia possa ser óbvia o suficiente tal que não percamos tempo orando por tal pessoa. Precisamos, porém, ser cuidadosos ao não fazer julgamentos apressados acerca daqueles que pareçam ter cometido apostasia. Forlines nos dá alguns bons conselhos práticos ao longo dessas linhas:

As pessoas nos EUA que vieram até mim com seus temores não disseram que, em seu passado, tomaram uma decisão de denunciar sua fé em Cristo. A situação na Rússia apresentou um problema diferente. Quando falo desse assunto por lá, algumas reais preocupações foram expressas. Num período de discussão, alguém disse que ele conhecera alguém que sob perseguição renunciara a fé em Cristo. Tempo depois a pessoa se arrependeu.

A fim de avaliar um caso como este precisamos manter em mente a distinção entre pecado de atrevimento e pecado de ignorância. Não é simplesmente o que uma pessoa faz ou diz que determina o caso. Atitude é um fator decisivo. Ao explicar como ele foi capaz de obter perdão do perseguir a igreja, Paulo certamente está implicando que ele se tivesse feito o que fez "presunçosamente", não haveria perdão.

Não podemos imaginar o sofrimento infligido, em tempos passados, sobre algumas pessoas na Rússia [para não mencionar os cristãos primitivos] para fazê-los negar sua fé. A morte foi misericordiosa à luz da severa tortura à qual alguns foram submetidos. Penso que devemos dizer que é certamente possível para os lábios pronunciarem palavras de uma negação da fé que não são equivalentes à apostasia ou naufrágio da fé. Parece que havia alguns que falaram palavras de negação que não cometeram apostasia de fato. Mas não penso que possamos explicar todos os casos dessa forma ... baseado em minha experiência em falar com as pessoas, eu alertaria pregadores sobre saltar rápido demais à conclusão que a pessoa que fala com elas acerca de ter cometido apostasia tenha, de fato, cometido. Penso ser melhor tomar isto como uma súplica de ajuda. (ibid. 284, 285)

Existe Outro Tipo de Apostasia?

Mas existe talvez um tipo de apostasia que possa ser remediada; uma apostasia que não constitua um completo repúdio à fé do coração? Existem diversas passagens que falam claramente do fato que aqueles que vivem em pecado segarão morte e não terão herança no Reino de Deus (Rm 8:12-13; Ef 5:-7; 1Co 6:9-10; Gl 5:19-21; Gl 6:7-8). Estes alertas são direcionados a crentes. É possível que se possa cair em um padrão de pecado e rebelião sem repudiar completamente o Senhor no coração?

Penso que a evidência é clara que crentes são alertados contra viver em pecado com a consequência de tal estilo de vida sendo a morte espiritual e ser arrancado do Reino de Deus. O escritor de Hebreus várias e várias vezes alerta seus leitores dos efeitos de engano e terrível endurecimento do pecado contínuo. Este endurecimento, se não for controlado, levará finalmente ao terrível ato da apostasia para a qual não há possibilidade de restauração.

O caso de Pedro pode servir como exemplo. Determinamos que Pedro não cometeu apostasia como a descrita em Hebreus, mas parece claro que Pedro cometeu alguma forma de apostasia desde que Jesus fala de quando ele deveria de novo se converter ou retornar (Lc 22:31,31). Existe um sentido, então, no qual Pedro se afastou do Senhor, por que deveria ele precisar de ser convertido de novo?

Talvez exista uma apostasia da qual se possa ser restaurado. Mas pode ser que estas passagens são alertas contra uma vida caracterizada pelo pecado porque tal vida logo levará à apostasia. Então quando Paulo fala de não herdar o Reino de Deus, ele está falando do que ocorrerá se a vida pecaminosa persistir ao ponto da apostasia. Aquele que semeia para agradar a carne certamente colherá morte espiritual e destruição eterna, mas apenas se não se arrepender. Portanto, as terríveis consequências adiantam o que inevitavelmente transparece se o pecado não é tratado. Pecado é extremamente perigoso porque se alguém persiste nele e não luta contra, apostasia e morte espiritual estão na próxima esquina.

Tiago lembra seus leitores cristãos [irmãos] que "se alguém dentre vós se desviar da verdade e alguém o converter, sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados." {Tg 5:19-20 AR} O que Tiago quis dizer aqui? Está ele sugerindo que aquele que se desvia da verdade pode experimentar uma morte espiritual e ainda assim ser restaurado novamente? Ou ele meramente está dizendo que o santo em desvio está sendo resgatado da morte espiritual que certamente o espera se ele persistir em pecado ao ponto da completa apostasia? Qualquer das duas interpretações parece possível.

E quanto a 1João 2:11,15? João nos fala claramente que qualquer um que odeia seu irmão está em trevas e não possui vida eterna. É impossível então para um cristão até mesmo odiar? Tal conclusão parece bastante improvável. Não nos falam estas passagens que morte espiritual resulta quando um crente odeia seu irmão? Mas novamente, João está apenas falando de persistência em ódio que é característica de descrença. Enquanto um cristão pode odiar seu irmão, ele não persistirá neste ódio rumo à morte espiritual. Em, vez disso, ele irá recuar ante à convicção do Santo Espírito, confessar seu pecado e ser lavado de toda impiedade. Persistência em ódio indicaria então que alguém se tornou descrente.

Em Romanos 11:23 somos informados que os judeus (ramos) descrentes podem ainda ser enxertados novamente se não persistirem em descrença. Muitos concluem daí que apostasia pode ser remediada. Porém, pode ser que estes judeus caíssem na mesma categoria de Paulo antes da sua conversão. Eles foram arrancados devido à rejeição do Cristo mas esta rejeição pode ser resultado da ignorância, o que poderia portanto tornar a restauração possível. Porém, Paulo não mantém esperança para aqueles crentes gentios que foram enxertados pela fé em Jesus Cristo. Ele diz-lhes que não devem ser presunçosos mas tementes porque se eles falharem em continuar na graça de Deus eles também serão arrancados. Paulo não fala nada da possibilidade de eles serem novamente enxertados. Talvez isto seja porque para eles serem arrancados só poderia ser resultado de completa apostasia da qual não existe possibilidade de restauração.

E quanto à segunda "conversão" de Pedro? Seu retorno pode ser simplesmente uma descrição de seu arrependimento. Se o que temos concluído sobre a natureza da apostasia é verdade, então isto adicionalmente confirmaria que a negação de Pedro não constitui apostasia. Se ele tivesse cometido apostasia como descrita em Hebreus 6 e 10, seria impossível a ele "retornar".

Mas e quanto àqueles que gradativamente param de viver de acordo com a sua fé sem repúdio completo desta fé? Ainda é possível tornar-se um apóstata deste tipo sem repúdio à fé exatamente da mesma maneira presunçoso como descrita em Hebreus 6 e 10? Algumas das passagens acima podem se encaixar confortavelmente com tal conceito e pelo menos duas passagens a mais vêm à mente que podem dar lugar a tal apostasia.

Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. {2Coríntios 13:5 Almeida Recebida}

As palavras de Paulo parecem sugerir que alguém possa abandonar a fé salvífica sem estar completamente consciente disso. Por esta razão, precisamos nos examinar a nós mesmos para ver se estamos na fé salvífica. Parece ser possível que um crente possa lentamente fugir da fé enquanto se apega a uma falsa esperança que ele ainda esteja salvo. Em outras palavras, um crente pode começar a ligar-se ao mundo e entregar-se à natureza pecaminosa mais e mais até que sua fé não é mais caracterizada pela verdadeira confiança e submissão a Cristo como Senhor e Salvador. Por esta razão, somos exortados a examinar a nós mesmos e nos assegurar que estamos vivendo em fé. Se nossas vidas não refletem a caminhada da fé, então não temos fundamentos para presumir estarmos em relacionamento salvífico com Cristo (Rm 8:12-14). Não podemos assumir que a graça de Cristo continua por aqueles que desejam viver para si mesmos, mesmo enquanto alegam viver em Cristo (Tt 2:11-14). Estar em fé significa mais que apenas crença mental. É uma fé que afeta nossas vidas e atitudes. É perigoso assumir que a graça de Deus nos permite viver de qualquer modo que quisermos desde que continuemos a servir ao Senhor:

Afirmam que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra. {Tito 1:16 Almeida Recebida}

Se examinarmos a nós mesmos e encontrarmos que nossa profissão de fé não é nada além de mera profissão, então falhamos no teste e como resultado Cristo não está em nós. Se Cristo não está em nós então certamente estamos perdidos (Rm 8:9). Existe alguma esperança de restauração para tal abandono da fé salvífica? Paulo não afirma explicitamente a possibilidade de restauração, mas suas palavras parecem sugerir a possibilidade. Há razão para examinarmos a nós mesmos. A razão poderia ser para o propósito de retornar à fé e nos re-comprometer completamente com o Senhor.

Então provavelmente isto constituiria uma apostasia que pode ainda ser remediada. Então esta não seria a mesma apostasia como a descrita em Hebreus 6 e 10 que parece ser caracterizada como uma atitude de arrogância e deliberada descrença. Em qualquer caso precisamos nos guardar contra complacência em nossa caminhada com o Senhor. Se começamos a tomar a graça de Deus por garantia e dar espaço para pecado e rebelião em nossas vidas, não há garantia que não continuaremos neste caminho para nossa própria destruição, e até mesmo a um ponto de tornar a restauração impossível. Devemos nos atentar às palavras do apóstolo inspirado:

[1] Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo: [2] Graça e paz vos sejam multiplicadas, mediante o conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor. [3] Visto como o seu divino poder nos tem dado todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou para glória e virtude; [4] pelas quais nos são dadas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que existe no mundo por causa das paixões. [5] Vós também, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento, [6] e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, [7] e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor. [8] Porque, se estas coisas estiverem em vós, e forem abundantes, não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. [9] Pois quem não tem estas coisas é cego, vendo somente o que está perto, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. [10] Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente confirmar o vosso chamado e eleição; porque, fazendo isto, jamais caireis. [11] Pois assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. [12] Pelo que estarei sempre pronto para vos lembrar estas coisas, ainda que as saibais, e estejais confirmados na verdade presente. {2Pedro 1:1-12 Almeida Recebida}(ênfase minha)

Há diversas coisas a notar nessa passagem. Primeiro, Deus nos dá poder necessário para perseverar em fé salvífica. Não é algo que possamos fazer de nossas próprias forças. Segundo, a caminhada da fé não deve ser estagnada. Ela deve ser uma caminhada de contínuo crescimento e maturidade. Se não estamos amadurecendo em nossa fé então estamos pondo a nós mesmos em risco de cair desta fé. Terceiro, Pedro deixa claro que aqueles que não perseveram e amadurecem na fé verdadeiramente foram perdoados de seus pecados passados ainda que eles tenham esquecido a significância desta inicial limpeza. Portanto, Pedro não está somente falando de falsos mestres que jamais experimentaram fé salvífica. Quarto, apenas continuando na maturidade da fé se faz o chamado e a eleição certos, evitando tropeçar [cair] e ganhando a certeza de entrar o reino eterno de Cristo.

Pode ser prudente então fazer uma distinção entre apostasia e apostasia irrevogável baseado nestas passagens. Certamente existe uma apostasia que não pode ser remediada se nossa exegese dos alertas de Hebreus está correta. Porém, também parece que existe uma apostasia menor. Esta apostasia não é menor porque não resulta em morte espiritual, mas porque pode ainda haver esperança de restauração mediante arrependimento e re-comunhão a Cristo em fé salvífica.

Conclusão: a evidência parece clara que apostasia como descrita em Hebreus 6 e 10 é um ato deliberado de descrença rebelde. Ela é feita com todo o coração em uma atitude de arrogância e desafio. Dúvidas ocasionais ou lutas com o pecado não constituem tal apostasia. Em vez disso, é o ato de deliberadamente afastar-se de Cristo e rejeitar completamente a verdade do Evangelho uma vez adotado. Esta apostasia é irremediável já que é "impossível renová-los novamente para arrependimento".

Existem passagens que parecem sugerir que há um tipo de apostasia da qual se pode ser restaurado. Porém, algumas dessas passagens podem também ser compreendidas como alertas contra o estilo de vida pecaminoso que inevitavelmente resultará em apostasia se tais pecados não forem lidados mediante confissão e arrependimento. Elas podem estar enfatizando os perigos do pecado ao antever as mais terríveis consequências se aquele pecado é persistentemente ignorado e assumido. Ainda assim, existem algumas passagens que podem ainda sugerir uma apostasia da qual se possa ser restaurado novamente para fé e salvação. Esta apostasia pode ser descrita como não mais viver de acordo com a fé que se professa (1Co 13:5, Tt 1:16). Elas, por tal razão, ficam fora do abandono completo da fé descrita em Hebreus 6 e 10.

Pecado pode levar à apostasia pelo endurecimento do coração até o ponto da descrença. É por isso que o pecado é uma coisa tão perigosa e jamais deve ser trivializado na vida do crente. Se crentes persistem em vida pecaminosa e se recusam a arrepender-se, apostasia irrevogável pode estar bem à porta. Este "pecado" pode ser a indulgência impenitente da carne, ou a tolerância gradual do falso ensino. Ainda há esperança de restauração e arrependimento antes do decisivo ato de descrença deliberada. Podemos portanto estar certos de que se alguém deseja se arrepender e ser restaurado a uma correto relacionamento com o Senhor então a apostasia irrevogável ainda não aconteceu.

Enquanto pode haver casos de completa apostasia que podemos observar e concluir com certeza que a apostasia ocorrera, há outras vezes em que não será tão fácil determinar se a apostasia irrevogável tomou lugar. Devemos manter a esperança para aquele que parece ter cometido tal apostasia enquanto alguma dúvida permanecer sobre a autenticidade do ato.


META
Título Original Perseverance of the Saints Part 11: Can Apostates Be Restored?
Autor kangaroodort
Link Original https://arminianperspectives.wordpress.com/2008/07/08/perseverance-of-the-saints-part-11-can-apostates-be-restored/
Link Arquivado http://archive.is/kfpXV

Perseverança dos Santos Parte 10

Perseverança dos Santos Parte 10: Examinando a Tipologia do Deserto em Hebreus

Perseverança dos Santos Parte 10: Examinando a Tipologia do Deserto em Hebreus

Alguns calvinistas têm argumentado que as frequentes referências aos israelitas em peregrinação no deserto sugere que o escritor de Hebreus não está abordando apostasia da verdadeira fé. É assumido que a geração errante que falhou em entrar na Terra Prometida jamais teve um relacionamento de fé salvífica com o Senhor. Desde que o escritor de Hebreus usa a geração peregrina como exemplo ou objeto de lição para a situação sendo abordada entre seus leitores, é argumentado que isto indica que ele não considera aqueles que ele alerta de apostasia como sendo crentes verdadeiramente regenerados. Em outras palavras, se temos boas razões para duvidar que a geração dos israelitas do deserto que falhou em entrar na Terra Prometida era salva, então temos razões para duvidar que aqueles que o escritor de Hebreus alerta, enquanto mantendo tais israelitas como exemplo, era de fato salva afinal. Creio que esta abordagem falha pelas seguintes razões: Que Corações Estavam Em Perigo de Serem Endurecidos?

O escritor de Hebreus vê apostasia como o resultado final de um coração endurecido. Isto é especialmente enfatizado em Hebreus capítulo 3, que é também o capítulo primário que faz frequentes referências à geração peregrina dos israelitas. Quem então está sendo alertado para não endurecer o coração e ouvir a voz de Deus no capítulo 3? No primeiro verso de Hebreus 3 o escritor inspirado deixa claro que seu alerta é dirigido aos "santos irmãos, participantes de uma vocação celestial" que têm confessado Cristo. Já havemos determinado que o escritor de Hebreus vê santidade em termos dos benefícios de purificação da alma mediante expiação, e não temos razão alguma para crer que ele imagina sua confissão de Cristo como sendo qualquer coisa menos que genuína. Portanto, temos boas razões para concluir que o escritor de Hebreus vê os mesmos a quem ele havia determinado a advertência, enquanto usando a ilustração dos israelitas peregrinos, como verdadeiramente salvos. Não há indicação de que ele mudou a sua atenção daqueles santos irmãos, para alguns potenciais convertidos, que ainda não haviam adotado o Evangelho, nas admoestações que diretamente seguem. No verso 12 ele anexa o alerta diretamente aos mesmos irmãos:

[12] Olhai, irmãos, para que nunca haja em algum de vós um coração mau de incredulidade, que se aparte do Deus vivo. [13] Mas exortai-vos uns aos outros a cada dia, durante o que é chamado Hoje; para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. {Hebreus 3:12-13 BLIVRE}

Que sentido faria dizer a descrentes, "Olhai ... para que nunca haja em algum de vós um coração mau de incredulidade, que se aparte do Deus vivo"? Por que descrentes deveriam ter um um coração mau e incrédulo? Faria sentido advertir descrentes contra o apartar-se de Deus? Esta não é uma chamada à conversão, mas um alerta àqueles que já são convertidos. Podemos ver isto plenamente no fato que o escritor de Hebreus os chama então a "exortarem uns aos outros a cada dia … para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado". Descrentes encorajam-se uns aos outros? Eles encorajam-se entre si em descrença ou em uma fé que jamais possuíram? Verso 16 então retorna ao exemplo da geração peregrina, "Porque alguns que ouviram, provocaram-no à ira, mas não todos aqueles que saíram do Egito por meio de Moisés;[?]". Seria sábio de nossa parte cogitar cuidadosamente por que o escritor de Hebreus realizou tal asserção. Creio que é uma dica importante o como devemos entender o paralelo intencionado entre a geração peregrina e aqueles sendo abordados nesta missiva, o que nos leva ao segundo problema com o apelo calvinista a este paralelo no AT: O Paralelo Entre Libertação e Redenção

Precisamos notar duas coisas que o escritor de Hebreus quer que foquemos no verso 16 (acima). Primeiro, vemos que estes israelitas "vieram do Egito". Como isto se relaciona à presente audiência? Parece bem claro no decorrer da epístola que o escritor de Hebreus vê sua audiência como aqueles que, bem como os israelitas no deserto, vieram do Egito. Eles experimentaram uma bem real libertação. Os israelitas experimentaram libertação do cativeiro do Egito e a audiência intendida de Hebreus experimentara libertação do cativeiro do pecado (e talvez do ritual judaico bem como se nós mantivermos a visão que são judeus que estão sendo primariamente abordados). Outra característica importante desta passagem, é que aqueles israelitas foram guiados por Moisés. Bem como os israelitas de Êxodo seguiram Moisés para além do cativeiro do Egito, assim estes presentes crentes escaparam do cativeiro do pecado e da lei tornando-se seguidores de Jesus Cristo, Aquele que foi proclamado superior a Moisés de todas as maneiras (3:1-6).

O escritor de Hebreus jamais questiona a inicial libertação de sua audiência; mais que isso, ele a assume plenamente durante toda sua epístola. Sua principal preocupação é se eles continuarão a seguir e obedecer Cristo tal que não falhem em entrar naquele eterno repouso que pertencem apenas àqueles que perseveram até o fim em fé salvífica (3:6,14). A lição que precisa ser aprendida é que a libertação inicial dos israelitas não lhes garantiu o repouso da terra prometida, e a libertação inicial destes crentes não lhes garante o repouso eterno no Reino Messiânico. Se esses crentes cessarem de ouvir as voz de Deus e começarem a dar vazão ao pecado e desobediência então eles estão em perigo de perder o objetivo de sua fé. É assim que o paralelo foi intencionado ser entendido. Vemos adicional confirmação disto no Capítulo 11 em que os heróis da fé são arrolados como exemplos para estes crentes emularem:

[13] Todos estes morreram na fé, sem receberem as promessas, mas as viram de longe, creram nelas, e as abraçaram, confessando que eram estrangeiros e peregrinos na terra. [14] Pois os que dizem tais coisas mostram claramente que buscam a sua própria pátria. [15] E, de fato, se se lembrassem daquela de onde saíram, tinham oportunidade para retornar. [16] Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial; por isso também Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus; porque já lhes preparou uma cidade. {Hebreus 11:13-16 BLIVRE}

Eles foram recomendados por morrerem na fé mesmo que sem receber completamente a promessa e por não retornarem ao país que deixaram para trás (o que parece significar somente que eles não retrocederam para a descrença mas mantiveram as promessas de Deus pela fé). Pela fé eles continuaram rumo ao objetivo e se recusaram a retornar em seus corações ao "país" do qual eles foram trazidos. Nós vemos novamente que o assunto não é se eles experimentaram ou não fé inicial mas se eles continuaram ou não em sua jornada de fé em direção ao objetivo final de sua fé. Este era o caso da geração peregrina dos israelitas também. Eles deixaram o Egito em fé mas mais tarde retrocederam ao Egito em seus corações. Foram estes mesmos israelitas libertos que mais tarde provocaram a ira de Deus no deserto mediante a desobediência e portanto tiveram seu acesso à Terra Prometida negado (3:17-19). Há uma grande promessa para os crentes que o escritor de Hebreus está dirigindo o foco, mas eles também falharão em receber a promessa se, após serem libertos, retornarem ao Egito (judaísmo?) em seus corações. Bem como os israelitas peregrinos, eles estão em um estado "entre" a libertação inicial e o repouso final (que em seu caso é a recepção de um repouso eterno em vez de uma possessão temporal de uma terra prometida). Por esta razão eles estão sendo encorajados a continuar em sua fé e continuar a manter a promessa porque eles ainda não chegaram, e, como os israelitas do passado, tragicamente falharam em chegar ao repouso prometido que lhes esperava (4:1). Como crentes em Jesus Cristo ele estão no processo de adentrar esse repouso, mas tal processo pode falhar em alcançar realização se a fé não for mantida até o fim (4:2-11). Grant R. Osborne nos dá um sumário conciso de como a tipologia do deserto está sendo utilizada pelo escritor de Hebreus:

A tipologia do deserto era bastante prevalente na antiga igreja como um ilustrativo tanto de julgamento quanto de recompensa. Ambos 1Co 10:1-13 e Jd 1:4-6 a tornam uma advertência contra os perigos do pecado. A inferência óbvia em todas as três passagens é que não se pode confiar na sua original "libertação" do pecado e lapso para apatia, mas deve-se perseverar em sua caminhada com Cristo. Sl 95:7-11, usado pelo escritor como base para sua esplêndida midrash aqui, era cantada pelos judeus como parte de sua adoração sabática no templo. Os leitores provavelmente entendiam dessa forma, especialmente desde que versos 1-7 do Salmo são um chamado à adoração. A inferência óbvia é que se deve ouvir Deus -- "Se hoje ouvirdes a voz dele" – e tal ouvir inclui obediência. (Grace Unlimited, ed. Clark H. Pinnock)

Exatamente. Apatia em direção ao pecado, imaturidade, desobediência, estão todos fortemente conectados e eventualmente levarão a uma definitiva descrença e rejeição (2:1-4; 3:17-19; 4:6, 11; 6:1-8; 10:26; 121-2, 15-17, 25). Hebreus 5:11 estabelece que seus leitores haviam se tornado tardios em ouvir e o verso 12 os censura fortemente pela falta de maturidade que os leva ao macabro alerta de Hb 6:4-8 acerca dos que caíram. Então o repetitivo imperativo: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações" (3:7,8,13,15; 4:7) Esta é a mesma coisa expressa pela metáfora do campo (6:7,8). A terra que está sendo descrita não começou em um estado endurecido mas começou em um estado macio e adubado que podia absorver a chuva e dar bons frutos, e é portanto descritiva daqueles que já foram crentes (verso 7). Porém se a terra se torna endurecida (devido à apatia rumo ao pecado e contínua desobediência), então este campo não pode mais sorver água suficiente para produzir vegetação útil (verso 8). Em vez disso ela só pode produzir cardos e abrolhos. A terra endurecida representa aqueles crentes que têm endurecido seus corações à voz de Deus ao ponto de se apartarem do Deus Vivo. os cardos e abrolhos são a evidência da apostasia e evocam a maldição de Deus. Existe um grave perigo para o crente em se tornar apático em direção ao pecado porque isto pode levar às mais horríveis de todas consequências espirituais. Este é um dos temas principais de toda a epístola. Os Peregrinos Israelitas Experimentaram Fé Verdadeira

Precisamos notar também que há forte evidência bíblica de que os israelitas que foram libertos do Egito de fato adentraram uma aliança de relacionamento com Deus mediante fé (ainda que a ilustração não apresente dificuldade para a visão arminiana acaso se possa mostrar que toda aquela geração jamais experimentou fé salvífica). Seria bastante forçado pensar que os israelitas pondo sangue nas ombreiras de suas portas em obediência ao comendo de Moisés tivesse sido qualquer coisa menos que um ato de fé (Ex 12:28, conf. Hb 11:28). Eles confiaram que Deus estava em vias de libertá-los e Ele lhes proveria desde que eles não fizeram provisões para o seu êxodo do Egito (Ex 12:39). Devemos realmente crer que os israelitas observaram a Páscoa em descrença (especialmente desde que descrença é correlacionada com desobediência em Hb 3:18-19)? Eles foram obedientes e confiaram em Deus, e Deus os redimiu como resultado (note especialmente que em Hb 11:29 somos informados que eles "atravessaram o Mar Vermelho como que por terra seca ...").

Então nós vemos que os israelitas começaram sua jornada em fé; mas existe alguma razão para crer que eles exerceram fé novamente após sua libertação primordial? Após Deus ter destruído os egípcios no Mar vermelho, lemos:

E viu Israel a grande obra que o Senhor operara contra os egípcios; pelo que o povo temeu ao Senhor, e creu no Senhor e em Moisés, seu servo.{Êxodo 14:31 BLIVRE}

E na canção de Moisés e Israel lemos: O Senhor é a minha força, e o meu cântico; ele se tem tornado a minha salvação; é ele o meu Deus, portanto o louvarei; é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.{Êxodo 15:2 BLIVRE}

Encontramos também que o povo afirmou seu compromisso com o Senhor e Sua Aliança em Ex 19:7-9, 24:3,7,8. O que fazemos então de Hebreus 3:10,11?

{10} Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Eles sempre erram no coração, e eles não conheceram os meus caminhos; {11} Então jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso. {Hebreus 3:10,11 BLIVRE}

Parece que o Senhor está falando de um padrão geral de rebelião que endureceu os corações dos israelitas ao ponto da completa descrença. Eles se recusaram a crer que Deus lhes daria a terra de Canaã porque havia gigantes nela (Nm 13:26-14:10). Lhes foi portanto negado o acesso àquela terra. Isto não significa que os israelitas jamais exerceram genuína fé em Cristo. Pelo contrário, isto ilustra a importância de resistir ao engano do pecado e continuamente ouvir a voz de Deus. Se continuarmos a rejeitar a sua voz iremos endurecer nossos corações e tornar cada vez mais difícil para nós crer e obedecer a Deus ao ponto da descrença e apostasia. É disto que o escritor de Hebreus está alertando seus leitores sobre. Precisamos ser cuidadosos em não ir exageradamente além do exemplo da geração peregrina desde que, ainda que foi negado a eles o acesso à Terra Prometida e morreram no deserto (Nm 14:30-35), mesmo assim eles foram perdoados (Nm 14:20). A falha em adentrar a Terra Prometida não necessariamente constitui perda de salvação (desde que a ambos Moisés e Arão foi negado acesso), enquanto a falha em adentrar o repouso eterno de Deus certamente o faz.

Conclusão: o uso do paralelo do AT entre a geração peregrina dos israelitas e a audiência intencionada da epístola aos hebreus não coloca perigo à interpretação arminiana. De fato, a posição arminiana é apoiada pela maneira específica que o escritor de Hebreus usa o exemplo da geração errante. A audiência intencionada da epístola foi redimida do pecado bem como os israelitas do Êxodo foram redimidos do Egito. Eles, como a geração do deserto, são considerados o povo da aliança escolhido por Deus que ouviu e respondeu à voz de Deus mas deve continuar a e responder à voz de Deus a fim de chegar ao objetivo final de sua fé: repouso eterno no Reino de Deus.


META
Título Original Perseverance of the Saints Part 10: Examining Wilderness Typology in Hebrews
Autor kangaroodort
Link Original https://arminianperspectives.wordpress.com/2008/06/06/perseverance-of-the-saints-part-10-tying-up-loose-ends-in-hebrews/
Link Arquivado http://archive.is/slRta

Perseverança dos Santos Parte 9

Perseverança dos Santos Parte 9: Hebreus 10:32-39

Perseverança dos Santos Parte 9: Hebreus 10:32-39

Vamos finalizar nosso exame exegético da passagem de advertência em Hebreus 10 com os versos 32-39:

Lembrai-vos porém dos dias passados, em que, depois de terdes sido iluminados, suportastes grande combate de aflições; Quando na verdade, em parte, fostes feitos espetáculo público tanto em insultos, como em tribulações; e em parte, fostes tornados companheiros daqueles que assim estavam sendo tratados. Pois também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria aceitastes a espoliação dos vossos bens, sabendo em vós mesmos que tendes nos Céus um bem melhor e que permanece. Portanto não rejeiteis a vossa confiança, que tem grande remuneração de recompensa; Porque tendes necessidade de paciência, a fim de que, quando tiverdes feito a vontade de Deus, recebais a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e aquele que vem, virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e se alguém se retirar, a minha alma não tem prazer nele. Mas nós não somos dos que se retiram para perdição, mas sim dos que têm fé para a salvação da alma. {Hebreus 10:32-39 BLIVRE}

Verso 32: Lembrai-vos porém dos dias passados, em que, depois de terdes sido iluminados, suportastes grande combate de aflições;

Aqui encontramos a palavra "iluminados" de novo. Grudem argumentou que o termo foi usado apenas para o ouvir do Evangelho em Hb 6:4, e portanto não tinha referência a nenhuma experiência salvífica. O verso 32, porém, sugere fortemente o contrário. Aqui o escritor de Hebreus usa a mesma palavra para descrever aqueles que foram verdadeiramente salvos e o fato de que eles foram "iluminados" parece ter referência à conversão em vez de apenas ouvir a mensagem do Evangelho. Sua audiência é instruída a lembrar que após terem sido "iluminados" eles "suportaram grande combate de aflições". Os versos 33 e 34 nos dão mais informações acerca do que estes sofrimentos incluíam. Eles sofreram o serem "feitos espetáculo público tanto em insultos, como em tribulações" e aceitaram com alegria o espólio de seus bens, "sabendo em vós mesmos que tendes nos Céus um bem melhor e que permanece".

Eles sofreram alegremente pelo bem do Evangelho e ainda assim temos que crer que esta iluminação se refere somente a ouvir o Evangelho. Tal conceito raso de "iluminação" simplesmente não se encaixa com a descrição que imediatamente se segue. Não faz sentido dizer que como resultado de meramente "ouvir o Evangelho" eles suportaram tão grande sofrimento. Muitos ouvem o Evangelho, rejeitam-no, e não sofrem nada por ele. São apenas aqueles que abraçam e se apropriam do Evangelho pela fé que são desejosos de sofrer por ele.

Deve estar claro, baseado no contexto, que "iluminados" significa bem mais que apenas "ouvir o Evangelho" para o escritor inspirado de Hebreus. Tem referência à própria conversão que apenas reforça a argumentação que os "iluminados" apóstatas de Hb 6:4 eram de fato salvos antes de terem caído. Também encontramos que estes "iluminados" alegremente sofreram o espólio de suas propriedades porque eles sabiam que tinham uma melhor e permanente possessão (verso 34). Isto só pode dizer que eles avistavam as recompensas celestiais de sua fé e prova que eles de fato estavam na fé desde que "fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem"{Hebreus 11:1 BLIVRE}. Eles já haviam passado o teste da fé e agora estavam sendo chamados para passar mais um. O lembrete de seu anterior sucesso é para o propósito de fortalecer sua resolução de que eles não viessem a retroceder da fé com a qual começaram (veja comentários abaixo no verso 38).

Versos 35, 36: "Portanto não rejeiteis a vossa confiança, que tem grande remuneração de recompensa; Porque tendes necessidade de paciência, a fim de que, quando tiverdes feito a vontade de Deus, recebais a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e aquele que vem, virá, e não tardará."

Note que o escritor inspirado não está admoestando-os para ganhar confidência (i.e. crer no Evangelho e serem convertidos), mas para manter a confiança que já tinham. Eles estão sendo chamados a permanecer em sua fé, o que claramente assume que sua presente fé é genuína. De fato, sua fé já foi assim provada dado o que responderam aos testes anteriores. Porém, eles não podem descansar em como eles agiram no passado mas devem continuar a perseverar em face das presentes provas para ganhar a prometida recompensa da salvação final. Eles precisam ser firmes. O escritor inspirado nunca questiona se seus leitores têm ou não fé genuína. Ele apenas questiona se tal fé perdurará ou não. Esta é a preocupação de toda a epístola. Os versos 37 a 39 decisivamente corroboram esta verdade:

Porque ainda um pouquinho de tempo, e aquele que vem, virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e se alguém se retirar, a minha alma não tem prazer nele. Mas nós não somos dos que se retiram para perdição, mas sim dos que têm fé para a salvação da alma.

Bem como Hebreus 6:7-8 conclui com uma descrição adicional dos apóstatas nos versos 6:4-6, assim os versos 10:37-38 concluem com uma descrição adicional do apóstata descrito nos versos 26-31. O ponto que é bem importante aqui é que o servo que retrocede no fim do verso 38 não é um servo diferente daquele que vive pela fé no início do mesmo verso. É o mesmo servo, "e se alguém [que vive pela fé] se retirar [da fé que o fez reto], a minha alma não tem prazer nele". Robert Shank cita Franz Delitzsch:

O sujeito de ambas as cláusulas é o mesmo - o homem justo, o homem que foi justificado pela fé; e no sentido que hupostellesthai é aqui usada é o de não manter a fé, vacilar na fé, abandonar o caminho da fé e a comunhão dos fiéis. O homem justo, o homem aceito diante de Deus, vive pela fé; mas se ele perde sua fé, e perversamente retrocede do bom caminho, sua aceitação é errônea. Que tal apostasia é possível mesmo para aqueles que foram verdadeiramente justificados, i.e., cristãos que tinham mais que uma experiência superficial da graça divina, é um dos principais pontos de instrução nesta epístola. [Life in The Son, 163]

Não pode ser subestimado que o servo é descrito no verso 38 como justo pelo próprio Deus. Não se diz que o servo parece apenas reto, pois o próprio Senhor confirma a justificação do servo. Esta retidão é devida a uma vida de fé. Porém, se o mesmo servo fiel retrocedeu da fé que o justificava, então o Senhor não mais se compraz nele. E por que não? Porque sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). O que acontece com aqueles que retrocedem? O verso 39 afirma que eles retrocedem para a destruição.

Adam Clarke é ainda mais incisivo em seus comentários acerca do servo mencionado nesta passagem, bem como a tradução errônea da King James:

Mas se qualquer homem retroceder] kai ean uposteilhtai. Mas se ele retroceder; ele, o homem que é justificado pela fé; porque é este o homem, e não outro, do qual o texto fala. A inserção das palavras 'se qualquer homem', se feita para servir o propósito de um credo particular, é uma perversão maligna das palavras de Deus. Eles estão evidentemente intencionados em afastar o relativo do antecedente, em favor de salvar a doutrina da salvação final e incondicional; doutrina esta, que o texto destrói. (Commentary: Hebrews pg. 209, Wesleyan Heritage Collection CD)

Isto é danoso à exegese de Grudem. Se Hb 10:37-38 fala do mesmo servo, então temos mais razões ainda para crer que Hb 6:7-8 se refere à mesma terra. O servo de 10:37-38 retrocedeu da fé que o fazia reto, e a terra que uma vez deu vegetação frutífera em 6:7-8 depois brotou espinhos e abrolhos por cair da fé. Estas não são descrições de reprovados irrevogáveis que rejeitaram o Evangelho ao ouvi-lo; estas são descrições de verdadeiros crentes que retrocederam da verdade que uma vez adotaram plenamente.

É significativo que o escritor de Hebreus alterou o texto do qual ele traçou esta advertência. A referência da LXX na qual Habacuque fala de alguém quem se ensoberbece com o orgulho e recua, contrastado com o justo que vive pela fé, "Veja, ele se ensoberbece; seus desejos não são retos -- [Septuaginta: E se ele recuar não irei me comprazer nele.] mas o reto viverá pela fé" (Simon J. Kistemaker, Hebrews, pg. 302).

Donald A. Hagner explica o significado da referência alterada:

O autor também transpõe a cláusula de Hc 2:4 (que na Septuaginta começa com as palavras 'se qualquer deles recua') tal que é o reto que deve confrontar diretamente a possibilidade de desertar de experimentar o desgosto do Senhor. O autor aceita então o entendimento messiânico da passagem (assim como na LXX) mas aplica Hc 2:4 ao crente cristão (apesar do singular, o meu justo). (NIBC Hebrews, pg. 176, ênfase dele)

Se o escritor de Hebreus está tentando expressar o que Grudem crê que ele estava tentando expressar (que o apóstata jamais teve fé salvífica) então o texto de Habacuque serviria melhor o propósito do autor se deixado como originalmente estava escrito. Em vez disso, o autor de Hebreus deliberadamente mudou [inverteu] a referência para descrever o particular servo que recua da fé que anteriormente o justificava diante de Deus. O fato que o escritor de Hebreus mudou a referência desta maneira adicionalmente demonstra que ele entende e define apostasia como um decisivo repúdio da fé justificadora dantes mantida.

No verso 39 o autor expressa confiança de que sua audiência não tem presentemente abandonado a fé e é dado como um encorajamento positivo, a fim de complementar o estímulo negativo das advertências anteriores. O autor inspirado não está expressando confiança infalível de que eles perseverarão desde que até mesmo no calvinismo tal segurança infalível não pode ser dada a outrem. Enquanto ele está supremamente esperançoso de que estes "servos justificados" não retrocederão, ele não pode ter certeza. Tal incerteza é a base das terríveis advertências e urgentes encorajamentos que precedem o verso 39. Conclusão:

Encontramos nos versos 32-39 confirmação adicional de que nossa exegese de Hebreus 10:26-31 estava precisa. Aquele que é justificado pela fé e santificado pelo sangue de Cristo pode ainda retroceder da fé e encarar punição eterna como inimigo de Deus. Obtivemos também uma compreensão adicional das advertências expressas em Hebreus 6:4-8 confirmando que "iluminados" se refere a uma experiência de conversão e não apenas exposição da mensagem do Evangelho.

Também descobrimos que a metáfora da terra em Hebreus 6:7-8 paraleliza com a descrição do servo reto que recua da fé em Hebreus 10:38. Isto destrói a tese principal de Grudem, a qual foi construída na pressuposição errônea de que a metáfora em 6:7-8 se referencia a duas terras em vez de uma. Bem como foi o mesmo servo justificado que retrocedeu da fé salvífica em Hb 10:38, assim é a mesma terra produtiva que deixou de dar vegetação frutífera e em vez disso deu abrolhos e espinhos ao cair da fé. O servo (10:28) e a terra (6:7-8) são ambos destruídos e incinerados como resultado de desertarem da fé que um dia lhes foi dada.


META
Título Original Perseverance of the Saints Part 9: Hebrews 10:32-39
Autor kangaroodort
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Perseverança dos Santos Parte 8

Perseverança dos Santos Parte 8: Que Tipo de Santificação Está Sendo Descrita em Hebreus 10:29?

Perseverança dos Santos Parte 8: Que Tipo de Santificação Está Sendo Descrita em Hebreus 10:29?

Examinaremos agora outra interpretação que intenta fazer esta santificação meramente externa sem nenhuma realidade interna. Ela parece comparar a santificação descrita em 10:29 com a limpeza cerimonial externa referida debaixo da antiga aliança em 9:9 e 9:13.

Peterson e Williams a veem como "uma santificação testamental na qual pessoas são separadas para parte da comunidade da aliança de Deus, a igreja, mas não são necessariamente salvas". Eles concluem que tal "'santificação' testamental mas não salvífica aparece em Hb 9:13 e 1Co 7:14. Em vista do contraste aqui entre a Antiga e a Nova Aliança, interpretamos 'santificado' como 'separado' em virtude da aliança como pertencendo a Deus." (Why I Am Not An Arminian pg. 86)

Grudem segue este entendimento básico citando numerosas passagens, muitas das quais ocorrem fora de Hebreus, que não necessariamente se referem à santificação interna. Ele então conclui:

Estes outros exemplos não provam, é claro, que hagiazo em Hebreus 10:29 seve se referir a alguma coisa além da santificação interna que acompanha a salvação, mas eles significam que não devemos assumir que hagiazo significa santificação salvífica também. Ademais, o contexto inteiro em que 10:29 ocorre, de 9:1 até 10:39, é acerca de paralelos entre os sacrifícios levíticos no Antigo Testamento e o novo, melhor sacrifício testamental de Cristo. Porque um foco cerimonial permeia este contexto, um sentido cerimonial de santificação seria apropriado em 10:29. Isto é especialmente verdadeiro no contexto imediato de 10:19-31, porque o autor está falando do fato que a congregação em geral tem um 'caminho novo e vivo' (10:20) disponível pelo sangue de Jesus, e portanto pode adentrar o santuário (10:19) e achegar-se (10:22) à presença de Deus. (Still Sovereign, pp.177, 178).

Então para Grudem, Peterson e Williams parece que "santificados pelo sangue do testamento" significa pouco mais que "dados o direito de ir à igreja e à assembleia com crentes enquanto eles adoram". Isto não é somente extremamente fraco mas impossível de suster-se à luz do próprio contexto que Grudem apela. Antes de examinarmos o contexto precisamos notar que Peterson e Williams provavelmente tenham ido longe demais e ferido a sua posição afirmando que "santificado" significa "separado em virtude da aliança como pertencendo a Deus". Estariam eles afirmando que um eterno e irrevogavelmente reprovado é "separado em virtude da aliança como pertencendo a Deus"? Tal coisa não parece ser amigável à sua posição afinal e pode revelar a dificuldade de descrever esta santificação como qualquer coisa menos que acompanhe a salvação. Infelizmente, eles não se preocuparam em explicar mais como tal coisa pode ser dita de reprovados que jamais pertenceram a Deus em qualquer sentido testamenta, então só podemos especular.

Como notamos em meu último post acerca de quem é santificado em Hebreus 10:29, o contexto da passagem em questão tem relevância com a comparação entre uma "santificação" que é meramente externa, realizada por sacerdotes pecadores, e uma "santificação" que é interna, realizada pelo Sagrado Sumo Sacerdote, Jesus Cristo. Notamos que o principal foco é o poder purificador do sangue de Cristo em contraste com o sangue de animais que não podem jamais remover o pecado ou purificar a consciência. O ponto é que o sangue de Cristo traz arrependimento e faz crentes santos e aceitáveis aos olhos de Deus, o que faz Cristo e Seu eterno sacerdócio bastante superior ao ministério sacerdotal do AT.

Grudem está correto em assumir que o contexto da passagem tem a ver com fazer adoradores apropriados para adentrar a presença de Deus, mas ele não foi longe o suficiente. A única razão que esses adoradores possam "adentrar o santuário (10:19) e achegar-nos à presença de Deus (10:22)" é porque tais adoradores têm sido verdadeiramente santificados com o sangue purificador de almas de Jesus Cristo. Eles foram feitos apropriados e aceitáveis a adentrar a presença de Deus e ousadamente aproximam-se do trono da graça apenas porque eles foram feitos completamente purificados mediante a fé no Filho de Deus e foram perdoados e feitos santos nos méritos de Seu sangue. O que Grudem perece estar sugerindo é que alguma espécie de purificação "externa" têm feito tais adoradores apropriados para adentrar a presença de Deus (a qual Grudem quer dizer pouco mais que ir à igreja como dantes notado); mas o contexto suportará isto?

O Espírito Santo dá a entender isto: Ainda não foi manifesto o caminho para o [mais santo] dos Santos [lugares], enquanto o primeiro Tabernáculo ainda está em pé; O qual é uma figura para o tempo presente, em que são oferecidos, tanto ofertas, como sacrifícios, que não podem, quanto a consciência, santificar aquele que serve. [Essas coisas consistem] somente em comidas e bebidas, e vários lavamentos, e ordenanças da carne, que são impostas até ao tempo da correção. {Hebreus 9:8-10 BLIVRE}.

O escritor inspirado está preocupado em demonstrar que a via para adentrar a presença divina debaixo da Antiga Aliança é obsoleta e chegara ao fim. Era inadequada para purificar verdadeiramente e era portanto uma sombra do cumprimento que estava ainda por vir ("o tempo da correção").

Mas quando veio Cristo, o Sumo Sacerdote dos bens futuros, através do maior e mais perfeito Tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação; Nem pelo sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou uma vez para os Santos lugares, tendo obtido uma eterna redenção para nós.{Hebreus 9:11-12 BLIVRE}

Apenas mediante o sangue de Cristo se pode adentrar o Santo Lugar da Nova Aliança que superou e suplantou a Antiga Aliança. Apenas aqueles redimidos por Seu sangue têm acesso a e mediante Ele aos santos lugares e diante da presença de Deus. Não é mais possível para alguém adentrar a presença de Deus mediante aquilo que provê apenas uma purificação externa porque a Antiga Aliança foi substituída pela Nova que demanda que os adoradores adentrem a presença de Deus verdadeiramente purificados pelo sangue de Seu Filho Amado. O escritor de Hebreus não está falando que ainda resta uma "santificação" que seja meramente externa pela qual pecadores podem ir à igreja junto a crentes ou conviver indetectáveis entre verdadeiros adoradores. Ele está afirmando em termos inequívocos que a única santificação disponível para aquele que quer adentrar a presença de Deus é aquela obtida pelo sangue de Cristo que perdoa e purifica pecadores que colocam Sua fé nEle.

Pois se o sangue de touros e bodes, e o espalhar de cinzas de uma novilha sobre os imundos, os santifica para purificação da carne; Quanto mais o sangue do Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? {Hebreus 9:13-14 BLIVRE}

Grudem apela para o verso treze para apoiar sua teoria de que a santificação descrita em 10:29 é meramente externa. O problema com esta sugestão é que o contexto vai contra isto dado que o escritor está novamente descrevendo a substituição da Antiga Aliança com a Nova devido às inadequações da Antiga Aliança. O escritor inspirado de modo algum está sugerindo que alguém possa ainda receber uma limpeza interna mediante o sangue de animais para o propósito de se achegar a Deus em adoração. Em vez disso, ele está estabelecendo que a Nova Aliança é superior e a Antiga Aliança é obsoleta porque o sangue de Cristo oferece real purificação interna da alma (veja Hebreus 8:6-13).

Hebreus 10:1-18 continua a enfatizar a substituição da Antiga Aliança com a Nova Aliança com particular atenção sendo posta no fato que o sangue de Cristo é superior porque fornece uma expiação definitiva (de uma vez por todas) pela qual os pecados daqueles que se achegam a Deus são perdoados. Considere em especial os versos de 11 a 14:

E, de fato, todo sacerdote aparece a cada dia, para ministrar e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; Mas este, que ofereceu um sacrifício pelos pecados, está sentado para sempre à direita de Deus; Esperando desde então até que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés. Pois com uma só oferta ele aperfeiçoou para sempre os que são santificados. {Hebreus 10:11-14 BLIVRE}(ênfase minha)

O contexto sugere que 'aperfeiçoou' tem referência específica com o perdão dos pecados (10:1). O sangue da Nova Aliança é superior porque fornece perdão aos que estão sendo santificados como resultado da expiação. Aqueles que estão sendo santificados nesta passagem são os que estão se beneficiando do perdão obtido pelo sacrifício de Cristo mediante fé em Seu sangue (conf. Rm 3:25). Esta é uma real e interna santificação. Isto nos leva ao clímax deste ensino e as implicações práticas dele nos versos 19-25.

Vamos rever e traçar algumas conclusões baseadas no contexto e nas interpretações sugeridas por Grudem, Peterson e Williams:

  1. O contexto deixa claro que existem apenas duas purificações possíveis em vista. A primeira purificação [santificação] é aquela da Antiga Aliança que era meramente externa e não arrancava os pecados. Esta purificação era pelo sangue de animais que prefiguravam a inauguração da Nova Aliança. A segunda purificação [santificação] é interna, traz perdão do pecado, e torna adoradores santos tal que eles possam se achegar a Deus em confiança. Não existe nenhuma terceira purificação no contexto destes capítulos! Ou é uma santificação externa obtida pelo sangue de animais, ou é uma santificação interna obtida pelo sangue de Cristo. Portanto, se nossos escritores calvinistas querem dizer que a santificação descrita em 10:29 é meramente externa então eles devem afirmar que ela foi obtida com sangue de animais debaixo da Antiga Aliança.

  2. O sangue da Nova Aliança em Cristo substituiu e obsoletou a Antiga Aliança. Só existe uma forma de ser "santificado pelo sangue do Testamento", e deve ser o sangue da Nova Aliança já que a Antiga Aliança não mais existe (Hb 8:6-13; 9:8-10; 10:1-18). Portanto,o apóstata descrito como santificado pelo sangue da aliança poderia somente ter sido santificado pelo sangue da Nova Aliança desde que não há mais nenhuma santificação ou aliança disponível.

  3. Hebreus 10:28,29 reforça o fato que o apóstata foi santificado debaixo da Nova Aliança desde que ele merece uma punição mais severa que aqueles que estão debaixo da Antiga Aliança.

  4. A conexão e o fluxo ininterrupto de pensamento de 10:19 até 10:29 deixa claro que o sangue que santificou o apóstata é o mesmo sangue de Jesus que dá aos crentes ousadia para entrar o Santo Lugar:

    Portanto, irmãos, visto que temos ousadia para entrar aos Santos lugares pelo sangue de Jesus, Pelo caminho novo e vivo que ele consagrou para nós através do véu, isto é, pela sua carne; E visto que temos um grande Sacerdote sobre a casa de Deus; Acheguemo-nos com um coração verdadeiro em inteira certeza de fé; tendo os corações aspergidos para a purificação da má consciência, e o corpo lavado com água pura;Mantenhamos firmes a invariável confissão da nossa esperança (pois fiel é aquele que prometeu); E prestemos atenção uns aos outros, para estimular o amor e as boas obras; Não abandonando a nossa reunião, como é costume de alguns; ao contrário, exortemos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que está chegando aquele dia. Porque nós, ao percarmos voluntariamente depois de recebermos o conhecimento da verdade, já não mais resta sacrifício pelos pecados; Mas sim, uma certa terrível expectação de julgamento, e um ardor de fogo estando a ponto de devorar os adversários. Se alguém que menospreza a Lei de Moisés morre sem misericórdias sobre a palavra de duas ou três testemunhas; De quanto pior castigo pensais vós será julgado merecedor aquele que pisou o Filho de Deus, e estimou por profano o sangue do Testamento no qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? {Hebreus 10:19-29 BLIVRE}

5 -- Seria sem sentido dizer que o apóstata pisou o Filho de Deus porque rejeitou e tratou por impuro o sangue de touros e bodes que apenas davam uma santificação externa. O escândalo das ações do apóstata está firmemente conectada ao fato que ele tratou o sangue da aliança "pelo qual foi santificado" como impuro [comum]. Portanto, o sangue só pode ser o de Cristo, dado que não haveria escândalo em tratar o sangue de animais como impuro debaixo da Nova Aliança, nem tal tipo de coisa constituiria pisar o Filho de Deus.

Contrário às assertivas de Grudem, Peterson e Williams, o contexto é totalmente contra sua interpretação. É o sangue de Jesus Cristo purificador da alma que está em consideração como aquilo que substitui o sangue dos animais na Antiga Aliança nos dois capítulos antecedentes a esta advertência. Ademais, o verso 19 indica plenamente que o sangue de Cristo é o que está de novo em foco bem definido guiando à descrição do apóstata.

Aplaudimos Peterson e Williams por acharem "artificial" a sugestão de que aquele santificado em Hb 10:29 é cristo. Porém, achamos tão artificial quanto sugerir que o sangue que santificou o apóstata era qualquer coisa menos que o sangue de Cristo pelo qual o apóstata foi internamente santificado antes de repudiar a fé. A única interpretação que é fiel ao contexto é a que admite que aquele que fora verdadeiramente santificado com o sangue de Cristo pode mesmo assim abandonar a fé para sua própria destruição.

Em nosso próximo post examinaremos Hebreus 10:32-39.


META
Título Original Perseverance of the Saints Part 8: What Kind of Sanctification is Being Described in Hebrews 10:29?
Autor kangaroodort
Link Original http://arminianperspectives.wordpress.com/2008/04/10/perseverance-of-the-saints-part-8-what-kind-of-sanctification-is-being-described-in-hebrews-1029/
Link Arquivado http://archive.is/vYAjq

Perseverança dos Santos Parte 7

Perseverança dos Santos Parte 7: Quem É Santificado em Hebreus 10:29?

Perseverança dos Santos Parte 7: Quem É Santificado em Hebreus 10:29?

Examinaremos agora uma das interpretações alternativas oferecidas pelos proponentes da segurança incondicional acerca do apóstata de Hb 10:29 ser santificado pelo sangue do Testamento. Calvinistas são bem cientes que se o texto estiver afirmando que o apóstata foi verdadeiramente santificado pelo sangue de Cristo, então a sua doutrina não pode suster-se. É por esta razão que estas interpretações alternativas são oferecidas apesar da clara linguagem da advertência. A primeira tentativa é afirmar que aquele santificado pelo sangue da aliança não é o apóstata afinal, mas o próprio Cristo. Grudem não adota esta visão mas crê que ela ela é digna de análise mais cuidadosa (Still Sovereign, pg. 178, footnote #91), enquanto os calvinistas Peterson e Williams acham-na inaceitável (Why I Am Not An Arminian, pg. 86, footnote #24).

O argumento é bem apresentado no livro de James White, The Potter's Freedom, e por esta razão interagirei com sua defesa desta interpretação particular. Ele escreve:

O erro que é geralmente feito acerca desta passagem é entender "pelo qual foi santificado" como a pessoa que prossegue pecando deliberadamente contra o sangue de Cristo ... Mas lembre-se novamente que o argumento do escritor vemos que o escritor se refere a Cristo como aquele que é santificado, separado, mostrado como santo, por seu próprio sacrifício, e este é por que é tão terrível coisa conhecer o o poder e propósito do sangue de Cristo e ainsa assim tratá-lo como "comum", como qualquer dos sacrifícios de bodes e touros oferecidos debaixo do antigo sistema. (pp. 244, 245)

James White então cita John Owen como apoio de sua incomum interpretação, e daí conclui,

O horrível alerta desta passagem, então, vem a partir do entendimento que não há mais sacrifício para os pecados. Cristo ofereceu a Si mesmo uma vez, portanto, aperfeiçoou aqueles por quem ele morreu. Tratar este perfeito sacrifício, então, como "comum" ao retornar aos sacrifícios repetitivos do antigo sistema é cuspir na própria face do Filho de Deus. Que espécie de punição, de fato, é cabível em tal situação! (ibid. 245)

Examinando a asserção de White de que o "santificado" pelo "sangue da aliança" é "Cristo, o Filho de Deus", e não o apóstata, é muito importante que tenhamos um entendimento claro do que "santificado" significa nesta passagem. Enquanto a palavra geralmente significa "separado", o contexto deve determinar qual palavra está sendo usada. Santificado simplesmente significa "separado" nesta passagem, ou há referência a algo mais? É claro que Sr. White quer que não olhemos além de "separado" já que isto o permitirá aplicar melhor esta palavra a Cristo, e não necessariamente o apóstata sendo abordado nesta passagem.

Novamente, White escreve, "Mas lembrando novamente que o argumento do escritor [a superioridade de Cristo como um maior Sacerdote] vemos que o escritor refere-se a Cristo como aquele que foi santificado, separado, mostrado santo, por seu próprio sacrifício". Ele cita Owen favoravelmente, que oferece Jo 17:19; Hb 2:10; 5:7,9; 9:11,12 como citações escriturais apoiando sua nova interpretação. Examinaremos portanto cada texto para ver se eles são aplicáveis ao verso em questão. Mas primeiro, vejamos outras passagens em Hebreus, bem como passagens correlatas em outros pontos da Escritura, a fim de determinar se algo além de "separado" está em vista na palavra "santificado" em Hb 10:29.

Capítulos 9 e 10 estão, como James White apontou, abordando a superioridade de Cristo sobre os sacerdotes levíticos da antiga aliança. O escritor está especialmente interessado com o poder de lavar a alma no sangue de Cristo em contraste ao sangue de animais usados na antiga economia. Enquanto o sangue de "touros e bodes" podia "santificar para a purificação da carne", o santo sangue de Cristo é capaz de limpar a consciência (9:13-14). Somos lembrados que "é impossível o sangue dos touros e bodes tirar pecados" (10:4), mas que o sangue de Cristo "aperfeiçoou para sempre os que são santificados" (10:14), e que sendo assim então limpos pelo sangue de Cristo nós "temos ousadia para entrar aos Santos lugares" (10:19), "tendo os corações aspergidos para a purificação da má consciência, e o corpo lavado com água pura" (10:22). O sangue de Cristo é o meio pelo qual somos perdoados e justificados.

Podemos concluir destas passagens que o sangue de Cristo santifica pecadores mediante uma real e poderosa purificação. Enquanto o sangue de animais meramente representava purificação, e portanto "não poderia nunca tirar os pecados" (10:11), o sangue de Cristo verdadeiramente limpa o pecador da culpa e mancha do pecado, e portanto o faz santo. O mesmo conceito é expresso em 1Jo 1:7, "Porém, se andamos na luz, assim como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos limpa de todo pecado" (ênfase minha), e em 1Pe 1:1,2 acerca daqueles que foram "Escolhidos segundo o pré-conhecimento de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo..." (ênfase minha). Vemos aqui também que o Espírito de Deus é o Agente que aplica o poder purificador do sangue de Cristo no pecador (veja também 2Ts 2:13).

Devemos especialmente mencionar Hb 13:12, "Por isso também Jesus, para santificar o povo por seu próprio sangue, sofreu fora do portão da cidade." (ênfase minha). A linguagem aqui é importante porque paraleliza com Hb 10:29, "De quanto pior castigo pensais vós será julgado merecedor aquele que pisou o Filho de Deus, e estimou por profano o sangue do Testamento no qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça?" (ênfase minha). Vemos que em Hb 13:12, é o povo que é santificado pelo sangue de Cristo, e não o próprio Jesus Cristo! Também é a leitura mais natural de Hb 10:29 que é a pessoa que declarou o sangue como impuro que fora, ela mesma, santificada pelo mesmo sangue. É difícil imaginar que qualquer leitor honesto concluiria que o apóstata e o santificado são pessoas distintas, a não ser que dirigido por um comprometimento prévio com a teologia "reformada". Em lugar algum da Missiva aos Hebreus, nem em ponto algum da Escritura, lemos Cristo sendo santificado pelo Seu próprio sangue, nem poderia haver razão alguma para que o santo e irrepreensível Filho de Deus precise de tal purificação. O sangue de Cristo fora derramado para santificação dos pecadores e não de Si Mesmo!

E quanto às referências escriturais de John Owen citadas por Sr. White? Elas ensinam que Jesus Cristo fora santificado pelo Seu próprio sangue? Examinaremos primeiro as passagens citadas de Hebreus, e então trataremos com a referência a Jo 17:19.

Hb 2:10 -- " Porque convinha a aquele, para quem são todas as coisas, e por quem são todas as coisas, que ao trazer muitos filhos à glória, consumasse por meio de aflições o Príncipe da salvação deles". É difícil de ver por que Owen nos referiria a esta passagem em apoio à sua posição. Enquanto a passagem nos fala que Cristo foi aperfeiçoado mediante "aflições", isto está longe de ensinar que Ele foi santificado pelo Seu próprio sangue. Se lermos um pouco mais veremos ao que tais aflições se referenciam: "Porque naquilo em que ele mesmo sofreu ao ser tentado, ele pode socorrer aos que são tentados." (verso 18).

Enquanto esta passagem não dá qualquer apoio real à interpretação de James White, ela ademais verifica que apenas pecadores são santificados pelo sangue de Cristo. O próximo verso se lê "Pois tanto o que santifica como os que são santificados, todos são de um; por isso ele não se envergonha de lhes chamar de irmãos"(2:11). Claramente, Cristo é aquele que santifica, e o povo é que é santificado, e portanto feitos dignos de serem chamados de irmãos. Esta passagem não diz nada acerca de Cristo santificando-Se pelo Seu próprio sangue, mas em vez disso ensina o exato oposto do que White está disputando.

Hb 5:7,9: "Ele, nos dias da sua carne, ofereceu com grande clamor e lágrimas, tanto orações como súplicas para aquele que podia livrá-lo da morte, e foi ouvido por causa do temor,[ ...] E depois de ter sido consumado, ele foi feito autor da eterna salvação a todos os que lhe obedecem;" Novamente devemos nos perguntar: onde é dito em tais versos que Cristo foi purificado [santificado] pelo Seu próprio sangue? Se simplesmente acrescentarmos o verso entre 7 e 9, que Owen estranhamente omite, vemos novamente que o Filho foi aperfeiçoado pelos Seus sofrimentos: "Ainda que fosse o Filho, ele aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu". Tais sofrimentos podem se referir à Sua tentação em 2:18, ou pode ser referente à Sua agonia no jardim -- oferecendo orações e súplicas com grande clamor e lágrimas, ou pode referir-se ao Seu sofrimento e morte de cruz, mas não há a menor referência aqui de Cristo sendo santificado pelo Seu próprio sangue!

Hb 9:11-12: "Mas quando veio Cristo, o Sumo Sacerdote dos bens futuros, através do maior e mais perfeito Tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação; Nem pelo sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou uma vez para os Santos lugares, tendo obtido uma eterna redenção para nós". Certamente Owen e Sr. White querem que foquemos nas palavras "[ ...]pelo seu próprio sangue, entrou uma vez para os Santos lugares[ ...]"

Novam,ente, devemos nos perguntar aonde isto significa que Cristo foi santificado pelo Seu próprio sangue. A chave para entender esta passagem é o contexto. O verso 7 nos diz "Mas no segundo [o Santo dos Santos], só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferece por si mesmo, e pelos pecados de ignorância do povo". O ponto que o escritor tenta fazer é que os sacerdotes da antiga aliança eram, eles mesmos, pecadores e portanto tinham que oferecer sangue para o propósito de purificar tanto a si mesmos quanto o povo.Eles adentravam o Santo dos Santos com o sangue de touros e cabras para oferecê-los a Deus para purificação. Cristo, ao contrário dos sacerdotes da antiga aliança, não precisava de purificação pessoal. Ele não entrou o Santo dos Santos com o sangue de touros e bodes para oferecer a Deus, mas em vez disso entrou mediante Seu próprio sangue uma vez, para que Ele não mais precisasse repetir Seu sacrifício expiatório.

O verso 14, como já vimos, novamente verifica que Seu precioso sangue foi oferecido com o único propósito de purificar pecadores. Vemos também no verso 14 que Cristo ofereceu a si mesmo sem culpa, e por esta razão não precisou, como os sacerdotes da antiga aliança, de purificação pessoal. Ele era inculpável antes de oferecer-Se a Si Mesmo, e não podia possivelmente ser santificado pelo Seu próprio sangue. Hb 7:26-27 enfatiza inegavelmente esta verdade:

Porque nos era conveniente tal Sumo Sacerdote, santo, inocente, incontaminado, separado dos pecadores, e feito mais alto que os céus; Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de cada dia oferecer sacrifícios, primeiramente pelos seus próprios pecados, e depois pelos pecados do povo; pois ele fez isto de uma vez por todas quando ofereceu a si mesmo. {Hebreus 7:26-27 BLIVRE} (ênfase minha)

Cristo ofereceu-Se como sacrifício perfeitamente aceitável a Deus, e Ele derramou Seu santo e precioso sangue com o propósito de purificar pecadores e não a Si Mesmo.Cristo consagrou-Se (santificou-Se) a Si Mesmo mediante Sua vida de submissão e obediência à vontade do Pai, incluindo Seu sacrifício voluntário na cruz do Calvário.

Jo 17:19: "E por eles a mim mesmo me santifico, para que também eles seja santificados em verdade". Aqui claramente se diz que Cristo santificou a Si Mesmo. Sem dúvida esta é a mais forte passagem de Owen. Não podemos assumir, porém, que o mesmo conceito expresso em Hb 10:29 está sendo transmitido nesta passagem. Afinal, esta passagem aparece em um contexto inteiramente diferente e deve ser cuidadosamente considerada à luz de seu contexto. Devemos prestar atenção ao aviso de Sr. White e sermos bem cautelosos "em não imprimir à Escritura um significado que não é parte do contexto original" (ibid. 27, 28).

Vemos que o propósito da santificação no contexto de Hb 10:29 é primariamente a purificação da alma da culpa e mancha do pecado, e que o meio de santificação é o sangue de Cristo. Este não é o caso em Jo 17:19. Nesta passagem a palavra hagiazo é primariamente voltada como sendo separado do mundo, e consagrado para uma determinada missão, e não tem referência ao poder purificador e alvejante do sangue de Cristo (veja Jo 10:36).

Jesus está orando ao Pai acerca de Seus discípulos. Eles foram separado por sua obediência à palavra que Jesus lhes dera (versos 6,14). Eles estão no mundo mas não são do mundo (verso 14). No verso 17 Cristo ora para que o Pai "Santifica-os em tua verdade; tua palavra é a verdade". Cristo então diz

Assim como tu me enviaste, eu os enviei ao mundo. E por eles a mim mesmo me santifico, para que também eles seja santificados em verdade. E não suplico somente por estes, mas também por aqueles que crerão em mim, por sua palavra.{João 17-18-20 BLIVRE}

O meio de santificação dos discípulos nesta passagem é a palavra da verdade (veja Jo 15:3), e não o sangue da aliança. Eles estão separados pela obediência à palavra (verso 6), e são consagrados para o propósito de trazer a palavra da verdade ao mundo (versos 21,23). Da mesma maneira Cristo santificou-Se a Si Mesmo mediante Sua contínua obediência à vontade do Pai, culminando em Sua morte, e morte de cruz (veja Fp 2:8). Os discípulos devem seguir Seu exemplo de obediência em face do sofrimento e morte dado que levam Sua mensagem da verdade pelo mundo. A obediência de Cristo em santidade é o que o qualificou a ser o único sacrifício aceitável e perfeito para os pecados (Hb 5:8,9; 7:26).

É por esta razão que a interpretação que James White quer imprimir em Hb 10:29 é impossível. Cristo foi um cordeiro limpo, sem culpa, inocente, imaculado, e separado dos pecadores (1Pe 1:19, Hb 9:14, 7:26), e portanto não precisava ser santificado pelo Seu próprio sangue. Alegar que Cristo precisava de ser feito santo pelo Seu próprio sangue é semelhante ao ensino dos judeus que o ouro do templo era mais sagrado que o tempo (Mt 23:16). O templo tornava o ouro sagrado, e não o contrário. Da mesma forma, o sangue de Cristo é santo e santifica (torna sagrado) porque é o Seu sangue. O Cordeiro santo e inocente fez o Seu sangue santo, e não o contrário.

Podemos achar perturbador aceitar a possibilidade de que alguém verdadeiramente limpo pelo sangue de Cristo possa ainda assim apostatar-se e perecer eternamente, mas devemos ficar ainda mais apreensivos com qualquer interpretação que procure fazer o santo e inocente Cordeiro de Deus necessitar de purificação por Seu próprio sangue. O próprio Cristo se fez perfeitamente claro acerca de que Seu sangue foi dado parta prover perdão dos pecadores (Lc 22:20; Mt 26:28; Mc 14:24, cf. Ef 1:17), e portanto jamais poderia ser dado com o propósito de santificar-Se a Si Mesmo.

Concluímos concordando com Williams e Peterson que "rejeitam a ideia forjada de John Owen, aceita por Roger Nicole e outros, que en ho hegiasthe se refere a Cristo" (Why I Am Not An Arminian, pg. 86, footnote #24). No próximo post examinarei a interpretação alternativa oferecida por Robert Peterson e Michael Williams bem como a quase idêntica interpretação sugerida por Wayne Grudem.


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Título Original Perseverance of the Saints Part 7: Who is Sanctified in Hebrews 10:29?
Autor kangaroodort
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Perseverança dos Santos Parte 6

Perseverança dos Santos Parte 6: Hebreus 10:26-30

Perseverança dos Santos Parte 6: Hebreus 10:26-30

Vamos agora examinar aquela que eu considero ser a mais significativa advertência contra apostasia em toda a Bíblia: Hebreus 10:26-30, 35-39. Vou citar o texto completo que desejo examinar abaixo mas este post irá lidar com os versos 26-30. Os versos 35-39 serão examinados em um post futuro.

{26} Porque nós, ao percarmos voluntariamente depois de recebermos o conhecimento da verdade, já não mais resta sacrifício pelos pecados; {27} Mas sim, uma certa terrível expectação de julgamento, e um ardor de fogo estando a ponto de devorar os adversários. {28} Menosprezando alguém a Lei de Moisés, morre sem misericórdias sobre a palavra de duas ou três testemunhas; {29} De quanto pior castigo pensais vós será julgado merecedor, aquele que pisou o Filho de Deus, e estimou por profano o sangue do Testamento, no qual ele foi santificado; e insultou o Espírito da graça? {30} Porque nós conhecemos aquele que disse: Minha [é] a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E [em] outra vez: O Senhor julgará o seu povo. {31} Temível coisa é cair nas mãos do Deus vivente. {32} Lembrai-vos porém dos dias passados, em que havendo sido iluminados, suportastes grande combate de aflições; {33} Quando na verdade, em parte, fostes feitos espetáculo público tanto em insultos, como em tribulações; e em parte, fostes tornados companheiros daqueles que assim estavam sendo tratados. {34} Porque também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria aceitastes a espoliação dos vossos bens, sabendo em vós mesmos que tendes nos Céus um bem melhor e que permanece. {35} Portanto não rejeiteis a vossa confiança, que tem grande remuneração de recompensa. {36} Porque tendes necessidade de paciência, para que havendo feito a vontade de Deus, recebais a promessa. {37} Porque ainda um pouquinho de tempo, e aquele que vem, virá, e não tardará. {38} Mas o justo viverá da fé; e se alguém se retirar, a minha alma não tem prazer nele. {39} Mas nós não somos daqueles que se retiram para perdição, mas daqueles da fé para a salvação da alma. {Hebreus 10:26-39 BLIVRE}

Examinaremos esta passagem verso a verso com notas exegéticas pelo caminho.

{Verso 26} Porque nós, ao percarmos voluntariamente depois de recebermos o conhecimento da verdade, já não mais resta sacrifício pelos pecados;

O pecado voluntário descrito aqui é geralmente entendido como sendo o pecado da apostasia (o mesmo em Hb 2:1, 3:12, 6:6 e 12:25). É o ato decisivo de repúdio à fé. Isto é consenso geral apesar do particípio presente. Os calvinistas Peterson e Williams escrevem:

Por causa da severidade do restante deste verso, entendemos o pecar "voluntariamente" como indicativo de uma deliberada renúncia da fé em vez de falar genericamente do pecado intencional. [Why I Am Not An Arminian, pg. 85]

Donald A. Hagner concorda:

As palavras 'ao pecarmos voluntariamente' mantém o pecado não referente a pecados ordinários, mas ao mais grave e final pecado, a apostasia. ('manter-se no pecado' pela NIV é uma adição interpretativa com a intenção de refletir o particípio presente d grego; aqui porém, pode ser que a tradução mais direta 'se pecamos' da KJV e RSV é uma tradução mais apropriada.) [NIBC: Hebrews, pg. 169]

O paralelo com outras passagens de alerta em Hebreus apoiaria esta interpretação. O uso do particípio presente poderia também se referir à contínua rebelião que endurece o coração, que está especificamente em vista no resto da passagem.

A segunda parte da passagem nos informa que seu repúdio toma lugar "depois de receber o conhecimento da verdade". Esta é uma frase significativa especialmente à luz do uso do grego epignosis para "conhecimento". Vou citar do meu post sobre 2Pe 2:20 acerca da significância de como esta palavra grega é usada aqui:

É também significante que a palavra grega para "conhecimento" usada nessa passagem é epignosis. Esta palavra grega é predominantemente usada pelos escritores do Novo Testamento com referência a um conhecimento completo e abrangente, em contraste a um conhecimento investigativo ou superficial (gnosis). Strong diz sobe epignosis, "discernimento completo" [Strong's Exhaustive Concordance, #1922]. Kittel diz, "a epignosis composta pode assumir um sentido quase técnico para a conversão ao cristianismo" [Theological Dictionary of the New Testament, 121]. O dicionário expositivo Vine do Antigo e Novo Testamento diz sobre gnosis, "primariamente uma busca pelo saber, um inquérito, uma investigação", e sobre epignosis, "denota conhecimento, discernimento, reconhecimento exato ou completo, e é uma forma mais completa do No. 1 [gnosis], expressando um completo ou repleto conhecimento, uma maior participação pelo conhecedor do objeto conhecido, portanto mais poderosamente influenciando-o" [pg 631]. A NASB traduz epignosis como "real conhecimento" e, Fp 1:9 e "verdadeiro conhecimento" e, 2Pe 1:3,8. Em Cl 1:9 epignosis faz referência a "todo entendimento e sabedoria espirituais" e "ao espírito de revelação e sabedoria" em Ef 1:17 (veja também Filemom 4-6).

Especialmente considere a linguagem salvífica em 1Tm 2:3,4, "Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador; O qual quer que todos os homens se salvem e venham a conhecer [epignosis] a verdade", comparada com Hb 10:26, "Porque nós, ao percarmos voluntariamente depois de recebermos o conhecimento [epignosis] da verdade...". Enquanto esta é forte evidência em favor da visão de que o apóstata como alguém que teve uma completo e salvífico conhecimento da verdade, a escolha de epignosis, por si só, não demonstra que seja este o caso. Epignosis e gnosis são usadas de maneira intercambiável na Escritura, mas o sentido mais forte de epignosis não deve ser ignorado. Mesmo se gnosis fosse usada, o contexto ainda sugeriria conhecimento salvífico. Paul Ellingworth escreve em seu comentário sobre o texto grego que este "conhecimento da verdade" é:

...o conteúdo do Cristianismo como a absoluta verdade (Bauer 2b); 'o decisivo conhecimento de Deus que é implicado na conversão à fé cristã' (R Bultmann in TDNT 1.707). A linguagem não é típica do autor, e sugere uma fórmula. Os paralelos mais próximos no NT são 1Tm 2:4; 2Tm 2:25,3:7; Tt 1:1, todas sem artigo; cf. Jo 8:32, 1Jo 2:21; 2Jo 1... a visão de Kosmala (137) que o 'conhecimento da verdade' neste verso 'não inclui mesmo assim a fé em Jesus Cristo' não ganha apoio e é alienada do contexto. (The Epistle to the Hebrews: A Commentary on the Greek Text, pp 532, 533)

A última parte do verso cria grandes problemas para o calvinismo acerca da doutrina da expiação limitada: "já não mais resta sacrifício pelos pecados". Repudiando a fé não existe mais nenhum sacrifício disponível ao apóstata. Porém, se o calvinismo está correto então jamais houve qualquer sacrifício feito para o apóstata desde sempre. O "apóstata", de acordo com o calvinismo, é na realidade apenas um reprovado que veio à borda da fé salvífica e então virou-se contra ela. O apóstata jamais colocou fé em Cristo e sua recusa apenas revela sua verdadeira natureza não-regenerada e irrevogavelmente reprovada. O calvinismo afirma que Cristo não morreu pelos reprovados e jamais fez qualquer provisão por seus pecados. Como então pode ser dito que pelo ato de apostasia "não mais resta sacrifício pelos pecados"? Esta dificuldade apenas se agiganta depois na passagem como logo veremos.

Alguns podem objetar que o verso pode ser entendido como simplesmente afirmando que não há outro sacrifício disponível para o apóstata voltar e nenhum outro sacrifício pode ser feito dado que Jesus morreu "uma vez por todas [em tempo]". O fato permanece, porém, que tal asserção parece desnecessária à luz da advertência em si já que nunca houve qualquer sacrifício providenciado para o apóstata (reprovado) se voltar em primeiro lugar (de acordo com o calvinismo). Parece claro também do contexto que o fato de nenhum sacrifício retar é diretamente conectado ao ato de apostasia em si em vez de algum decreto secreto que eternamente bloqueou os reprovados de quaisquer benefícios da expiação. O fato de não haver mais para onde voltar, então, é diretamente relacionado ao ato de rejeição (apostasia) e não a qualquer decreto secreto eterno.

Verso 27: Mas sim, uma certa terrível expectação de julgamento, e um ardor de fogo estando a ponto de devorar os adversários.

Não resta mais sacrifício pelos pecados do apóstata, mais há algo que permanece, a promessa de eterno julgamento abrasador. Este verso ensina plenamente que o destino do apóstata é o fogo do inferno. Este verso claramente ensina que o destino do apóstata é o inferno de fogo. O destino do apóstata é "e um ardor de fogo estando a ponto de devorar os adversários", dado que o apóstata se fez adversário de Deus mediante sua rejeição do sacrifício de Cristo e portanto sofrerá o destino dos inimigos de Deus.

Precisamos nos deter brevemente para considerar uma interpretação por alguns proponentes da segurança eterna incondicional que tenta traçar um paralelo entre esta passagem e 1Co 3:14-15:

Se a obra de alguém que construiu sobre ele permanecer, receberá recompensa. Se a obra de alguém se queimar, o construtor sofrerá perda; porém o tal se salvará, contudo, como que passado pelo fogo. {1Coríntios 3:14-15 BLIVRE}

Baseados em seu entendimento de 1Co 3:14-15 é alegado que apenas uma perda de recompensas está em vista em Hb 10:27. Porém, o contexto de Hb 10:27 não permite tal interpretação dado que está descrevendo o destino do apóstata e não as suas recompensas. O apóstata se tornou inimigo de Deus e sofrerá a mesma ruína eterna de todos os inimigos de Deus. O paralelo com Hb 6:8 é significativo:

Mas produzindo espinhos e abrolhos, é reprovável, e perto está da maldição, cujo fim é ser queimada. {Hebreus 6:8 BLIVRE}

É importante notar que a terra é queimada e não somente os espinhos e abrolhos. A terra representa claramente o estado final do apóstata em Hb 6:8 e faz paralelo com o estado final e destino dos apóstatas em Hb 10:27. É exegese forçada, na melhor hipótese, insistir que recompensas estão em vista em qualquer destas passagens. Devemos também comentar o contexto de 1Co 3:14-15. Aqueles que poderiam sofrer perdas são os construtores (Paulo e Apolo especificamente no contexto imediato, cf. 3:6-9) que firmaram na base de Jesus Cristo (versos 11-12).

A passagem fala da qualidade do trabalho realizado por aqueles que estavam firmes na fundação de Jesus Cristo. Apenas crentes podem estar em vista aqui, o que não é o caso de Hb 10:27. 1 Co 3:14-15 não fala do fruto da fé e o Santo Espírito na vida pessoal de alguém (p.ex. Jo 15:1-6; Gl 5:22-23), mas da qualidade e eficácia da obra ministerial em construir o corpo de Jesus Cristo (versos 12-15). Estes construtores permanecerão salvos porque eles se firmaram na fundação segura, mas não terão nada para mostrar de suas obras porque não se firmaram sabiamente. Seus esforços, entretanto, provarão ser em vão.

Versos 28,29: Menosprezando alguém a Lei de Moisés, morre sem misericórdias sobre a palavra de duas ou três testemunhas; De quanto pior castigo pensais vós será julgado merecedor, aquele que pisou o Filho de Deus, e estimou por profano o sangue do Testamento, no qual ele foi santificado; e insultou o Espírito da graça?

Estes versos colocam imensa dificuldade para o calvinismo e enfrentaram alguns dos mais infelizes atos de tortura exegética por aqueles que desesperadamente tentam manter suas doutrinas do doloroso naufrágio das implicações claras destes versos.

Os versos 28 e 29 indicam que a punição em vista está além da morte física como fora notado acima. O escritor está aqui demonstrando a justiça de Deus em Seu furioso e eterno julgamento do apóstata que foi tão vividamente descrito no verso 27. Este "mais severo" castigo é bem merecido porque o apóstata "pisou o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança no qual fora santificado, e insultou o Espírito da Graça".

A maior dificuldade para o calvinismo nestes versos é o fato de que o apóstata é dito ter sido santificado pelo sangue da aliança. Discutiremos isto em outro momento, mas também é importante notar que o apóstata "pisou o Filho de Deus" e "insultou o Espírito da Graça".

A natureza e abrangência da expiação tomam foco nestas passagem em vista do justo julgamento divino para o apóstata. Precisamos lembrar que no calvinismo nenhuma provisão fora feita para o reprovado. Jesus Cristo não derramou Seu sangue pelo reprovado. Este sacrifício não foi intencionado para aqueles que Deus decretou destruir antes mesmo de o mundo ter sido criado. A maioria dos calvinistas diz que o Santo Espírito "passa ao largo" destes reprovados e nega-lhes a graça necessária para crerem e serem salvos.

Se o Santo Espírito não tem intenções de salvar os reprovados e deliberadamente reteve graça salvífica para eles, então como pode possivelmente ser dito que estes supostos "reprovados" (i.e. apóstatas) insultaram o Espírito da Graça? Em que sentido seria eles poderiam possivelmente terem pisado o Filho de Deus se o Filho de Deus não fez provisão para eles? Eles não rejeitaram verdadeiramente o sangue de Seus sacrifício, dado que tal sangue nunca fora intencionado ou providenciado para eles. Os reprovados não tem nada para rejeitar porque Deus não fez nada disponível a eles. Como então Deus está justificado em julgá-los acerca desta "rejeição"?

A passagem responde a esta questão para nós de uma maneira que cria ainda mais problemas para o precioso P do calvinismo. Os apóstatas são condenados porque o sangue de Cristo não foi apenas verdadeiramente derramado por eles mas de fato santificou-os. O ato decisivo de apostasia é, por esta razão, um tão grave pecado e completo insulto ao próprio Espírito da Graça que aplicou este sangue santificador da aliança (conf. 1 Pe 1:1,2; 2Ts 2:13). Este é o porquê de um apóstata merecer tão severa punição (verso 29).

Calvinistas estão bem a par das implicações destes versos e vieram com algumas maneiras engenhosas de aliviar a dificuldade. Examinaremos duas dessas interpretações propostas em nossos próximos dois posts. Após isto examinaremos os versos 31-39.


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Autor kangaroodort
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