CONCLUSÃO (Romanos 9: Uma Leitura Arminiana Sob a Nova Perspectiva)

Conclusão

Conclusão

Então, para resumir, de acordo com a interpretação agostiniana/calvinista, que assume fé em Cristo para salvação e surgiu em oposição ao pelagianismo e à Igreja Católica Medieval:

Paulo começa o trecho angustiado pelo fato de Israel fracassar em vir à salvação pela fé em Cristo(Rm 9:1-5). A resposta de Paulo é que nem todos os de Israel são Israel – isto é nem todo israelita é eleito (Rm 9:6). Paulo demonstra que a prerrogativa de Deus eleger quem ele quer, mostrando a eleição de Isaque sobre Ismael e de Jacó sobre Esaú (Rm 9:7-13). Deus tem misericórdia apenas de quem Ele escolhe ter misericórdia, e endurece os restantes, como exemplificado por Faraó (Rm 9:14-18). Neste ponto, Paulo imagina um interlocutor que articula a disputa arminiana: se Deus escolheu endurecer alguém como Faraó, como pode Deus então julgá-lo pelo que ele estava predestinado a fazer?(Rm 9:19) Paulo repreende o interlocutor pela sua impiedade, e usa a alegoria oleiro-barro para reiterar que Deus tem o direito de eleger alguns e reprovar outros como Ele julgar conveniente (Rm 9:20-21). Paulo então acrescenta, como argumento de apoio, o fato de que quando Deus escolhe reprovar alguém como Faraó, ele tem que suportar pacientemente seu pecado e arrogância, mas o faz a fim de demonstrar Sua Glória aos eleitos, que acabam por estar tanto entre gentios como também entre judeus (Rm 9:22-24). Ele, portanto, traz a discussão de volta à questão da incredulidade dos judeus em Cristo, da qual sua discussão sobre a eleição foi uma digressão.

A partir deste ponto, o restante do capítulo é tratado com relação à questão judeu-gentio e a salvação pela fé, em oposição às obras, sem referência explícita à eleição (versos 25 a 33).

A presente interpretação que apresentamos aqui reconhece a significativa mudança de paradigma que ocorre no primeiro século em respeito à identidade do povo de Deus. Ela contrasta com a visão tradicional em termos de manter em mente durante todo o texto as questões dominantes dos judeus e da salvação pela fé.

Ela inicia, como antes, com Paulo angustiado pelo fracasso de Israel em vir à fé em Cristo (Rm 9:1-5). Ele tem que enfrentar a oposição judaica que, se o Evangelho estivesse correto, isto acarretaria que as promessas de Deus aos judeus haviam falhado. Sua resposta é que as promessas de Deus não falharam, mas outros estão herdando-as, porque nem todo Israel é Israel – ou seja, nem todo Israel seguira Abraão em fé (Rm 9:6). Descendência étnica de Abraão não é o suficiente para ser considerado "filho de Abraão", como os exemplos de Ismael e Esaú demonstram; A Israel já foram concedidas bênçãos imerecidas, comparando com outros descendentes de Abraão (Rm 9:7-13). Portanto Deus não é injusto se ele agora está excluindo os descendentes de Jacó que não vêm em fé, porque qualquer um que ele abençoa, mesmo Moisés, é um objeto de Sua misericórdia (Rm 9:14-16). Deus pode optar por poupar um tempo até mesmo para alguém como Faraó, que Deus escolheu endurecer – sabendo que ele mesmo iria se endurecer em resposta ao desafio de Deus – a fim de Deus glorificar-Se a Si mesmo mediante aquela pessoa, o que pode ser visto tanto como um exemplo de misericórdia tanto quanto de endurecimento de Deus (Rm 9:17-18). A implicação é que foi os judeus receberam misericórdia no passado, mas não há garantia de misericórdia no futuro se eles não vierem à fé em Cristo. O interlocutor hipotético pergunta por que Deus ainda culpa os judeus, se foi Ele quem os endureceu (Rm 9:19), recusando-se a reconhecer que os judeus foram endurecidos bem como Faraó o fora, pela sua própria recusa obstinada em se arrepender. Paulo então os repreende, e usa a metáfora oleiro-barro para ilustrar que Deus sempre tratou Israel na base de seu arrependimento, e são apenas aqueles que se recusam a arrepender-se que contra-argumentam que foi Deus que os fez ser como são (Rm 9:20-21). Paulo então argumenta que Deus tem de lidar pacientemente com os "objetos de ira" – os incrédulos – a fim de tornar sua glória conhecida aos "objetos de misericórdia" – aqueles que vêm à fé, e que ele especificamente identifica como vindos tanto não apenas dentre os judeus mas também dentre os gentios (Rm 9:22-24). As citações-suporte de Isaías e Oseias esclarecem o ponto: que muitos daqueles que os judeus pensavam estar excluídos da aliança (os gentios) ao final estavam sendo incluídos, enquanto muitos dos que os judeus achavam estar inclusos na aliança (eles mesmos) estavam na verdade excluídos (Rm 9:25-29). A base segundo a qual os gentios foram incluídos e os judeus não é explicitada em Rm 9:30-33: é que os gentios estão obtendo a justificação mediante a fé, enquanto os judeus a perseguem pelas obras.

Prós e Contras

Pode-se argumentar contra esta interpretação que a tradicional é mais simples e direta do texto em Romanos, e que ela não endereça assuntos do judaísmo étnico ou justificação pela fé, nenhum dos quais é referenciado de modo claro na passagem (Rm 9:14-23). Para tal, podemos responder que a interpretação tradicional é mais simples em virtude da maior familiaridade com ela, e porque assume certas interpretações das citações do Antigo Testamento que são simples mas demonstravelmente falsas, uma vez que o contexto é devidamente compreendido. O assunto do judaísmo étnico domina Rm 9-11, e portanto pode ser seguramente assumido de uma passagem que não o referencie explicitamente, enquanto a justificação pela fé é o tema dominante da Missiva aos Romanos como um todo, e é a rejeição dos israelitas pela justificação mediante a fé que provoca a presente discussão. Por outro lado, a interpretação tradicional lê o texto pressupondo a eleição incondicional individual, que é uma doutrina discutível, certamente não sendo um tema presente em Romanos de 1 a 8, e não seguindo de Romanos 9:25.

Em essência, Paulo está falando do Israel étnico algo muito próximo do que os intérpretes reformados veem. Ele está falando a eles que Deus tem o direito de escolher quem ele quer para estar entre o povo da aliança. Mas ele não está falando isto a eles porque Deus escolheu não eleger a maioria deles. Ele está falando isto porque o paradigma de inclusão no povo da aliança mudou, do Israel que seguia a Lei para qualquer um que venha à fé em Cristo. Israel se sentiu enganada por esta mudança de paradigma, logo Paulo explica que Deus não tem obrigação nenhuma para os descendentes físicos de Abraão; de fato, Paulo demonstra pelo Antigo Testamento que seu relacionamento com Israel sempre foi à base de arrependimento.

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