OBJETOS DE IRA E DE MISERICÓRDIA (Romanos 9: Uma Leitura Arminiana Sob a Nova Perspectiva)

Objetos de ira e de misericórdia

Objetos de ira e de misericórdia

Sugerir que o propósito do barro é determinado e inalterável do ponto de vista divino vai de encontro à forma como esta alegoria é usada no restante da Escritura: "E se Deus, querendo mostrar sua ira, e dar a conhecer seu poder, suportou com muita paciência os vasos de ira, preparados para a perdição?"(Rm 9:22). Novamente, assume-se aqui que os "objetos de ira" são os não-eleitos, representados por Faraó, Ismael e Esaú. Mas no contexto dos capítulos de 9 a 11, o principal interesse de Paulo é que os judeus não estão vindo a Cristo. Os "objetos de ira", então, são a maioria da nação de Israel. A paciência com a qual Deus tem suportado eles reflete Seu desejo de vê-los arrependidos (Rm 2:4). Não obstante, enquanto eles permanecem como objetos de ira, recusando-se a arrepender-se, eles são preparados para a destruição. "Preparado para a destruição" ecoa Provérbios 16:4:

O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal. {Provérbios 16:4 Almeida Recebida}

Mas "os perversos" não são necessariamente uma categoria estática: o desejo de Deus é que eles "se arrependam e vivam (Ez 18:23; 30-32).

“E {se Ele fez isto} para que também desse a conhecer as riquezas de sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória?" {Rm 9:23}

Uma das razões pelas quais Deus tolera os perversos – mesmo aqueles que ele pré-conhece que não se arrependerão – é para fazer conhecidas "as riquezas de sua glória". Podemos racionalmente perguntar como a paciência de Deus alcança este propósito. Podemos facilmente entender como o julgamento de Deus alcançaria isto, demonstrando aos "objetos de misericórdia" o justo julgamento do qual eles foram resgatados. Mas isto não explica como a paciência de Deus em retardar Seu julgamento alcança isto. Talvez isto simplesmente exalta a Soberana Majestade de Deus – Ele não precisa amedrontar ou "fazer alguma coisa" com os perversos: seu fim já está assegurado. Mas parece mais razoável reconhecer que os "objetos de sua misericórdia" são neste momento "objetos de ira" (Ef 2:3) mas escaparam de tal ira mediante o arrependimento e a fé. Para eles, certamente, as "riquezas de Sua Glória" são realmente reveladas, porque eles reconhecem que só pela misericórdia de Deus durante sua vida pregressa de rebelião é que eles receberam esperança de salvação. Portanto, as categorias "objetos de ira" e "objetos de misericórdia" são dinâmicas, não estáticas. A inclusão de um indivíduo nestas categorias é baseada na resposte deste mesmo indivíduo à oferta da graça. [1]

No verso seguinte, Paulo torna-se mais explícito na sua identificação dos "objetos de misericórdia". Eles são "nós, a quem ele também chamou, não só dentre os judeus mas também dentre os gentios" (Rm 9:24). Aqui Paulo explicitamente volta ao tema original (Rm 1-6), apoiando a ideia as qual que ele jamais se afastou. A ofensa aos judeus é que Deus está agora abertamente chamando pessoas dentre os gentios, bem como aquelas dentre os judeus que aceitaram a fé em Cristo. Paulo sustenta seus comentários a partir de mais citações do Antigo Testamento. Ele cita Oseias 2:23 e 1:10 no sentido de que aqueles que anteriormente não eram incluídos na nação da aliança seriam incluídos entre aqueles que ele chama "meu povo". Ademais, ele cita Isaías 10:22-23 e 1:9 no sentido de os salvos dentre Israel seriam apenas o "remanescente".

Em outras palavras, para aqueles judeus que se valiam da etnia e aderência à Lei para sua inclusão entre o povo de Deus, Paulo mostra a partir das próprias Escrituras Hebraicas que eles não tinham razão alguma para contar com isto. Portanto, ele sumariza seu próprio argumento nos versos 30 a 32. "Os gentios, que não procuravam a justiça, a obtiveram". De que maneira? "Pela fé". Paulo deixa claro que é este o critério, esta é a questão: gentios estão vindo à justificação pela fé. Israel, entretanto, adotou "uma lei de justiça ... não pela fé mas como que pelas obras". A questão não é que Deus soberanamente escolheu apenas uns poucos judeus mas muitos gentios; a questão é que Israel rejeitou a fé como a característica determinante da nação da aliança, em favor de continuar a confiar na Lei. Portanto, o dom gratuito da salvação pela fé em Cristo é uma pedra de tropeço para os que não creriam, mas "aquele que nela confia não será envergonhado" (Rm 9::33, citando Is 8:14, 28:16).


[1]Certamente, tudo isto levanta a questão de se e como os réprobos são habilitados a vir à fé em Cristo. Se eles não o são, à parte da aplicação da graça irresistível destinada somente aos eleitos, então a posição calvinista se mantém mesmo com esta interpretação. Uma discussão detalhada das passagens relevantes de Efésios 2 está fora do âmbito deste estudo; porém, é discutível que os dois primeiros capítulos de Efésios também tratam do relacionamento entre judeus e gentios, como é deixado claro no restante do livro, e que o ponto de Paulo em Efésios 2 é identificar os crentes judeus ("nós também", Ef 2:1) com os gentios (destinatários) em sua comum experiência de serem "mortos em delitos e pecados" antes da conversão, se referência específica de como a conversão fora efetuada.

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